As manchetes, que beleza!


Depois de quase cinco dias soterrada num “universo paralelo” de orientações, monografias, bancas, trabalhos e notas de final de semestre, hoje finalmente consegui dar uma espiada na versão online dos jornais de costume. Foi uma olhadela, um passar de olhos, mas com tempo suficiente para me deixar intrigada: onde vamos parar? Até parece que estou fazendo coro ao texto do post anterior, quando digo que não sou pessimista, mas não foi intencional, “juro”.

Bom, sem muitos rodeios, o fato é que a minha leitura começou assim:

Mais violência nos subúrbios de Paris (ZH)
Tráfico faz homicídios crescerem 61% na Capital (ZH)
Oposição promete parar dois terços da Bolívia (Estadão)
(Governadores de seis províncias lideram greve; Congresso impede opositores de integrar votação de leis)

Intercalada por uma seqüência de fotos, cujas legendas estão abaixo:

Policial palestino tenta conter manifestantes durante velório de homem morto ontem pela polícia palestina em Hebron, na Cisjordânia (Folha)
Soldados observam protesto de pequeno grupo de taxistas contra alta do preço do combustível em Beirute, no Líbano (Folha)



E encerra com:
Reação e morte
Vítima aproveita distração de assaltante e o mata a tiros
(ON)


Não sendo suficiente, diante das notícias ululantes (gosto dessa palavra ... hehehe) que sinalizam o final do ano e o (des) controle que vem se instalando nas mais distintas esferas da sociedade, e em todas ao mesmo tempo - o que resta ao mundo da vida? -, pasmem, encontro um manchete e uma foto legendada, ambas surreais (curto os surrealistas):


A primeira é uma imagem do Lula ao lado do Duque de Luxembrugo:
'Quero ver todo mundo torcendo para o Corinthians hoje', diz Lula, antes de encontro com duque de Luxemburgo’ (Estadão)


A segunda, uma notícia, mais inacreditável que a própria manchete!
Dalai-lama propõe referendo sobre sua reencarnação (Estadão)

Tudo isso com o seguinte pano de fundo:


CCJ aprova envio de parecer que recomenda cassação do mandato de Renan ao plenário (Folha)

Esta última, só foi publicada para testar a minha paciência diante do absurdo promovido pela “Casa”, que é soberana, como disse Tarso Genro na ocasião em que Renan foi absolvido, tempos atrás.
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Engraçado, e eu que sempre achei que soberano mesmo era o povo...

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É, o mundo está de cabeça para baixo, os jornais não me convencem do contrário, mas o problema maior é que, no meio disso tudo, nem sei, se de fato, sei para que serve o jornalismo. Se alguém quiser arriscar um palpite será bem vindo, afinal tenho que propor alguns planos de aula para o próximo semestre. Supeito que minhas férias serão de muitas leituras, revisitando o que já foi dito, procurando o novo...

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Um outro tempo, daqui há 20 anos



Há alguns dias a trás, um aluno, durante a entrevista que concedi ao jornal para o qual ele trabalha, me pediu que falasse sobre o rádio daqui a 20 anos. Isso me deu muito em que pensar, não só sobre a linguagem e o suporte com o qual tenho maior intimidade no campo da comunicação, mas sobre o nosso próprio fazer profissional. Claro que essa reflexão também é sintomática: estamos no final do ano, e daqui a um mês formamos mais uma turma de jornalistas, que acompanhei por 08 semestres, e dos quais muitos são meus orientandos.

Mas tenho de admitir: não consigo imaginar o que será do rádio e nem mesmo do jornalismo daqui há 20 anos. Sequer imagino o que será do mundo. Por mais que me esforce, às vezes acabo achando – de achismo mesmo – que tudo está perdido (não que eu seja exatamente o que se pode chamar de pessimista).

Se observarmos a história da comunicação e do próprio veículo em questão nos dando conta de que, mais de quinhentos anos depois do invento de Gutenberg, e principalmente devido aos saltos tecnológicos dados nas últimas décadas, criamos um imenso reservatório multimídia de documentos, acessíveis em tempo real. Para além do jornal, do rádio e da televisão, a web alterou os modos de seleção e processamentos das informações, fatos e idéias, ampliou seus fluxos, e, mesmo, redimensionou as condições e critérios para o acesso e controle aos canais de interlocução. Agora, os espaços midiáticos de expressão (canais de emissão e não apenas de recepção) estão disponíveis para uma parcela significativa do público que até então era apenas ouvinte/espectador.
...

Qualquer pessoa que tenha um computador conectado na internet, seja em casa, no escritório, na casa de um amigo, ou numa lan house, pode distribuir informação: publicar uma fotografia, postar um áudio ter uma página pessoal e produzir notícia, porque não? Os blogs, que eram considerados, até bem pouco tempo atrás, diários virtuais, hoje postam informações ilustradas sobre guerras, descobertas científicas e tragédias de toda ordem, mais rápidos que os sites dos grandes jornais e que o famoso imediatismo do rádio. E como pensar que isso não vai transformar o jornalismo, suas práticas e até mesmo o próprio conceito? Mas também não sabemos a resposta para essa pergunta, e se até bem pouco tempo atrás tínhamos algumas certezas sobre qual era a nossa função na sociedade e como poderíamos fazer nosso trabalho, hoje precisamos repensá-lo. Mais do que isso: precisamos repensá-lo na mesma velocidade com que as inovações e as múltiplas possibilidades de comunicação surgem no cenário social. Essa é a tarefa que proponho aos meus alunos a cada novo encontro, temos de praticar, conhecer as técnicas, mas constantemente revisá-las, nos perguntando se ainda são eficientes, se atendem as expectativas do público leitor/ouvinte/espectador, que é sempre outro e sempre mais exigente, e principalmente se o material que produzimos dá conta de cumprir a responsabilidade social que assumimos por sermos jornalistas.

II cadavre exquis!

...

Na parede estava escrito ENTÃO.
Então, os meus pés se vão...
...assim , de música em música
........................................[e sempre foi assim],
.
só porque ela estava de pulôver vermelho.

Os mamulengos (Eu, Pablo, Gisele, Julian e Nathália)

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cadavre exquis!


Eis o nosso “cadáver delicado”...
... na mesa do bar de costume, numa madrugada sulina:

Eu e meu consolo de que coisas são qualquer coisa, até um Velcro, uma frase.
Deveras não sei o que escrever e a culpa é minha,
por isso coloco em quem eu quiser.
Então, se você tem que ir, vá logo ou vai ter de ficar a noite inteira,
porque assim é a vida!
...
eu, Fabi Beltrami, Roberta Scheibe, Geraldo Borowski, Morto, Rodrigo Chaise e Serginho
...
O cadáver delicado ou cadavre exquis é um jogo criado pelo surrealista português Mário Cesariny (na década de 1940) a partir uma técnica de escrita e de pintura coletiva, cujo objetivo era surpreender o consciente. Nesse sentido ele propunha que a obra fosse construída através do trabalho em cadeia, onde cada autor dá continuidade, em tempo real, à criatividade do autor anterior, conhecendo apenas parte (ou nada) do que este fez.

Na prática, trata-se de um “Jogo de papel dobrado que consiste em fazer compor uma frase ou desenho por várias pessoas, sem que nenhuma delas possa aperceber-se da colaboração ou colaborações precedentes. O exemplo, tornado clássico, que deu nome ao jogo, está contido na primeira frase obtida deste modo: O cadáver-esquisito-beberá-o-vinho-novo.” (in Antologia do Cadáver Esquisito, organização de Mário Cesariny, Lisboa, Assírio & Alvim, 1989, p.95). Na época, muitos dos resultados desta escrita automática foram publicados na revista de André Berton, "La Révolution Surréaliste".
....
p.s.: há uma controvérsia quanto a tradução do termo exquis. As publicações mais recentes o traduzem como delicado e não esquisito.

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Diálogos III

Com meus orientandos, às vésperas de entregar o TCC!

"Para saber como conhecer melhor, é necessário conhecer melhor como nos organizamos para conhecer". CANCLINI, N. G. Diferentes, Desiguais e Desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007. p. 139.


P.S.: Por isso o blog anda abandonado: é o volume de trabalho...risos

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    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

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quem é a garota da vitrine?

Minha foto
Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

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pelo caminho...

pelo caminho...
lendo... só lendo e imaginando uma história da nossa suposta história...

O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

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o que são scriptografias e outras escrivinhações?

O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



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