jornalismo é pra jornalista

Quarta-feira, dia 23 de junho de 2009.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 10:50.
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Na semana passada perdemos um direito adquirido: a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista. Mas quem perdeu mais foi, mesmo, a democracia. Ensaiei alguns textos para colocar aqui, mas nenhum deles traduziu tão bem o meu sentimento, como o do prof. João Batista. Os escritos que seguem abaixo circularam nos últimos dias pela lista de discussão do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo...




Clayton. Ele é chargista do Jornal O POVO, de Fortaleza.
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Reflexões de um aprendiz de cozinheiro

Nesses 55 anos de estrada, confesso que vivi. Profissional e afetivamente. Mas que me perdoe Pablo Neruda, nunca aprendi a cozinhar. Sei apenas de cozinha de jornal. Aquele trivial simples, como fazer títulos e linhas de apoio, legenda e texto-legenda, chamada, macaca e outros adereços. Aprendi a botar tempero na matéria alheia, numa época em que o copidesque do Jornal do Brasil estava repleto de gurmês de fino trato. E eu, apenas um aprendiz de cozinheiro.
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Nesses 35 anos de janela, compreendi que a paisagem nos oferece várias lições e que nos cabe assimilá-las ou não. A universidade se apresenta como um balcão de ofertas. Uma oferta democrática porque permite a aprendizes conhecer, experimentar, refletir, enfim preparar receitas que, espera-se, algum dia serão destinadas à sociedade. No espaço da sala de aula pode-se sim ensinar técnicas jornalísticas. Se não acreditasse nisso, preferiria pedir demissão.
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Quando um poder supremo desmerece uma profissão desqualifica também sua formação. Ignora o longo tempo de dedicação de jovens que buscam nos bancos escolares ascensão social e a perspectiva de encontrar um lugar digno na sociedade, sem depender de favores, práticas de nepotismo ou arranjos partidários.
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Talvez seja essa possibilidade que incomode tanto. Silenciosamente, a universidade pode contribuir para dotar cidadãos das mais variadas origens sociais de uma reflexão crítica, sem qual ele não exerceria qualquer profissão de nível superior na sua plenitude.
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Como repórter, aprendi que a maioria dos jornalistas não costuma ser convidada para banquetes e aqueles que o são correm o risco de pagar uma conta alta na carreira. Certa vez, ao entrevistar um empresário durante um coquetel para o qual eu não fora convidado, arranquei-lhe algumas respostas enquanto ele degustava tranquilamente um camarão, sem ao menos ter a educação de oferecer ao entrevistador. Interpretei aquela atitude como um recado, que marcava a distinção do lugar social entre os dois personagens.
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Os filmes de Buñuel ensinam como as refeições representam um lugar de exclusão e inclusão na sociedade burguesa. A constatação nos ajuda a entender a metáfora do ministro onipotente. Novamente a demarcação entre os que sentam à mesa do banquete e os que preparam a comida. Sem diploma, e portanto sem os benefícios econômicos que dele advêm, o que se deseja é que fiquemos sempre condenados a preparar a comida alheia, especialmente a dos comensais de banquetes.
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Aos jovens cozinheiros, candidatos a chefes de cozinha, fica a advertência. Não confundam o lugar do jornalista com os dos representantes da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), principal articuladora do lobby que derrubou a obrigatoriedade do diploma. Ho Chi Minh 'cozinheiro da colonial Marinha francesa', nos mostrou que é possível um pequeno Davi de olhos puxados sair vitorioso na luta contra Golias. A nossa luta é a do feijão com arroz contra o supreme de frango.
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João Batista de Abreu
Jornalista com diploma

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livros, livros, livros - o que dizem sobre você?

Quarta-feira, dia 03 de junho de 2009.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 18:50.


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Na época em que trabalhei no Centro de Referência de Literatura e Multimeios da Universidade de Passo Fundo, carinhosamente chamado por seus usuários de Mundo da Leitura, descobri um contentamento inusitado diante dos livros ditos infantis. Aprendi a olhá-los com seriedade e respeito, a significar suas falas e a representatividade delas para a infância, e, sobretudo, sua transversalidade com o universo adulto. Percorrendo as paredes daquele labirinto, colorido e luminoso, que transcende as estantes e o escorregador do ciberespaço, cai nos caminhos polissêmicos, e sem fim, que todo texto oferece. Depois disso, passei a acreditar que os livros não têm idade, e nem uma dessas outras amarras que gostamos de usar para classificar as coisas e guardá-las nesta ou naquela gaveta (como fazemos com as áreas, as disciplinas e a ciência de um modo geral). Os livros de literatura estão simplesmente, e para sempre, numa caixa de brinquedos, vasta e bagunçada.
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Para mim, à margem das classificações impressas da página dois de cada livro, estão os leitores, suas experiências de leitura, suas curiosidades e sua disponibilidade para ler. Um livro, então, é feito para qualquer leitor que queira lê-lo e crie com ele um elo de afeto e de identidade.
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O que importa se eu tiver quase trinta anos e o livro, apontar através da ficha catalográfica, que se trata de uma literatura “infantil”?
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O que importa se ele for apenas de imagens ou que conte a história de um homem que amava construir castelos de caixas?
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Sem essa de leitor ideal!
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Por isso, de vez em quando me pego comprando alguns livros “estranhos” sobre monstros alienígenas, porcos com rabinhos de mola, e flores gigantes! As moças da livraria e os outros adultos que me perdoem: não preciso e não quero inventar desculpas para isso!

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    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

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quem é a garota da vitrine?

Minha foto
Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

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pelo caminho...

pelo caminho...
lendo... só lendo e imaginando uma história da nossa suposta história...

O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

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o que são scriptografias e outras escrivinhações?

O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



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