A garota de vitrine
Faço referência ao filme de Anand Tucker não porque acredito que haja uma relação inequívoca entre mim e a personagem (e há, sempre há), mas porque gosto, e ouso dizer que acho até poética e pós-moderna, a idéia de uma parede de vidro. Uma parede de vidro translúcida através da qual enxergamos o mundo. Pode ser uma vitrine ou pode ser uma tela de cristal líquido (?).
Confesso, que certa feita cheguei a pensar num sentido eternizado da palavra vitrine - “vidraça atrás da qual ficam expostos objetos destinados à venda ou a serem vistos”(1) - de modo que a sensação estabelecida, na época, é a de que só havia duas ações possíveis diante da uma vitrine: a de comprar ou a de ver.
No entanto, essa imobilização do sentido – como costumamos fazer com uma série de outros signos que circulam em nosso cotidiano, ignorando o diálogo que travam entre si e com o contexto no qual são produzidos e consumidos – passa a ser relativizada diante da complexidade e da dinamicidade das práticas com as quais nos comprometemos no novo mundo que acaba de nascer, mas que existe desde sempre.
Passei, então, a me perguntar: quem está dentro da tela? E quem está fora dela? Quem é o exposto? E o observador? De quem é o texto? Há de fato um avatar? Sou espectador ou sou navegante ou sou autor?
Foi a ousadia de Chaplin que, como num passe de mágica, devolveu, diante dos meus olhos, a polissemia do signo vitrine (que na leitura que fiz/faço era/é sinônimo de tela). O ator – e atentem aqui para o fato de que quando trago essa informação é porque acredito na potencialidade da linguagem cênica, uma vez que ela consegue descortinar as essências das práticas da vida – anteviu uma nova relação do sujeito com o mundo. Já no início do século passado ele colocou Carlitos frente aos manequins da vitrine de uma loja qualquer, e sem cerimônia apontou para fora dela, apontou para nós, espectadores, (des)cobrindo nosso esconderijo, anunciando que somos espectadores na mesma medida em que somos atores.
Confesso, que certa feita cheguei a pensar num sentido eternizado da palavra vitrine - “vidraça atrás da qual ficam expostos objetos destinados à venda ou a serem vistos”(1) - de modo que a sensação estabelecida, na época, é a de que só havia duas ações possíveis diante da uma vitrine: a de comprar ou a de ver.
No entanto, essa imobilização do sentido – como costumamos fazer com uma série de outros signos que circulam em nosso cotidiano, ignorando o diálogo que travam entre si e com o contexto no qual são produzidos e consumidos – passa a ser relativizada diante da complexidade e da dinamicidade das práticas com as quais nos comprometemos no novo mundo que acaba de nascer, mas que existe desde sempre.
Passei, então, a me perguntar: quem está dentro da tela? E quem está fora dela? Quem é o exposto? E o observador? De quem é o texto? Há de fato um avatar? Sou espectador ou sou navegante ou sou autor?
Foi a ousadia de Chaplin que, como num passe de mágica, devolveu, diante dos meus olhos, a polissemia do signo vitrine (que na leitura que fiz/faço era/é sinônimo de tela). O ator – e atentem aqui para o fato de que quando trago essa informação é porque acredito na potencialidade da linguagem cênica, uma vez que ela consegue descortinar as essências das práticas da vida – anteviu uma nova relação do sujeito com o mundo. Já no início do século passado ele colocou Carlitos frente aos manequins da vitrine de uma loja qualquer, e sem cerimônia apontou para fora dela, apontou para nós, espectadores, (des)cobrindo nosso esconderijo, anunciando que somos espectadores na mesma medida em que somos atores.
Mais tarde, também fui sacudida pela obra de Velásquez – homem do seu tempo, em tal dimensão, que se tornou homem do meu também – e me perguntei novamente: afinal, quem é o quadro? A evidência, então, saltou-me as vistas. Nós não olhamos As Meninas, mas somos vistos por elas. Frente a imagem, a sensação que nos toma é de que as regras do jogo foram mudadas.
Hoje, a vitrine é, para mim, uma metáfora do lugar onde nossas vivências estão/são experimentadas, e a partir do qual exercitamos múltiplas leituras. Ora, somos transeuntes de uma orbe hipertextual, sujeitos das nossas partidas e chegadas, autores das histórias que contamos e das que lemos. Arquitetos dos caminhos possíveis e dos impossíveis.
Hoje, a vitrine é, para mim, uma metáfora do lugar onde nossas vivências estão/são experimentadas, e a partir do qual exercitamos múltiplas leituras. Ora, somos transeuntes de uma orbe hipertextual, sujeitos das nossas partidas e chegadas, autores das histórias que contamos e das que lemos. Arquitetos dos caminhos possíveis e dos impossíveis.
“Mas onde está o quadro?”, perguntou Theóphile Gautier em 1819, quando viu As Meninas. Uma das respostas possíveis é que o quadro está onde nós estamos, emoldurados pela vitrine, pelos limites das 17 polegadas, livres dentro da infinidade da rede. Somos pintados, dentro e fora da moldura. Seguimos num (des)território, (des)interessados da saída, dos reversos e dos anversos (para fazer referência a Lacan).
Obs.:
1. FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
2. Os (des) que estão neste texto nasceram de uma provocação feita pelos meninos do EREP Sul, que, sem querer, me deram muito em que pensar.
Obs.:
1. FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
2. Os (des) que estão neste texto nasceram de uma provocação feita pelos meninos do EREP Sul, que, sem querer, me deram muito em que pensar.
5 comentários:
oba, aulas com Biba via web. Uau. Vou virar fã das scriptografias. Em troca te dou de presente todo o besteirol que está em http://leandrodoro.zip.net. Eu sei que não paga nem a primeira parcela do curso Biba de Comunicação, mas estamos aí. Beijos.
A garota da vitrine, hora observando, hora sendo observada, hora fazendo parte da vida que passa, hora vendo a vida passar. As indagações que aqui encontrei são da parte que observa de dentro da vitrine os momentos que lá fora passam;já as convicções, são da melhor parte que em ti vejo; da parte que observa o belo,do pedaço que saberia exatamente o que fazer com ele, e de quem com segurança, obtém ou deixa pra trás.
Aguardo ansiosa nossas scriptografias, mesmo aquelas que somente nós acharemos graça e entenderemos. A exposição foi minha negação... quer saber ? Besteira! Posso ficar do lado de dentro da vitrine também, deixar que olhem, que adimirem e que façam críticas, instrutivas ou destrutivas. Do lado de dentro do vidro a gente não escuta....
Eu simplesmente te amo!
nem sei o que dizer... vou viver aqui lendo e lendo e lendo! Você é maravilhosa, exuberante... você é um sonhozinho de amiga e de tudo que se pode imaginar!
Devo confessar que quando li tantos "(DES)" fiquei super empolgado... mas quando, no final, li que era por causa dos meninos do EREP, os olhos choveram!
Te adoro e te adorono hehe!!!
Beijos
Ótimo!
Que bom tê-la (ou seria lê-la) na blogosfera também.
Bons escritos!
Visitarei sempre.
Já está linkada no meu.
Abraços
Opa!!!
que legal ver os (des) por aqui! e tao bem utilizados....
mas me senti (des)...
sou uma meninA do EREP!
e pelo que fiquei sabendo... a senhorita agora também é!
viva a (des)construção de idéias!
TadoroMto!
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