Mostrando postagens com marcador afetos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador afetos. Mostrar todas as postagens

Djanira: um portal sobre o papel dos professores

Há cerca de duas semanas, fui com meu filho de 04 anos numa roda de samba, organizada pelo Grupo Ritornelo de Teatro. Lá, para minha surpresa, encontrei a professora Djanira. Surpresa, porque ela foi minha professora na 6ª, 7ª e 8ª série, há quase 30 anos, e a vi poucas vezes depois disso. Mas ela estava lá, com toda a sua força e sua negritude, e nos presenteou com sua voz.

Para mim foi uma oportunidade única, bem a tempo (falecida em julho de 2019, cerca de um ano atrás). Quando a vi, fiquei tão contente, que tive de me aproximar e dizer, rapidamente: "- oi professora, que bom lhe ver, fui sua aluna no IE". Ela me olhou, sorriu e disse: - eu lembro.

Não sei exatamente se ela lembrou mesmo ou não, mas não importa. Djanira foi professora de muita gente, e toda essa gente teve a oportunidade de aprender com ela, aprender uma paixão pela vida, a força da natureza de quem somos, aprender a olhar para dentro, enxergar o nosso potencial.

Para uma menina bugra do interior, filha de professores, em escola particular, muito estudiosa e acuada diante da diferença social, financeira e cultural que havia entre ela e os colegas, diante do bullying naturalizado, só a presença e o brilho dessa professora já eram suficientes. Mas Djanira foi além: ela me incentivou a entrar para o coro da escola, a fazer teatro, me preparou para provas de poesia e oratória da Olimpíada Metodista, e esteve presente para conversas permanentes. Ficava sempre numa sala ótima, no miolo do "rendondão".

Foi o teatro que me ajudou a pagar a minha faculdade, anos depois. Hoje sou Diretora de uma Faculdade de Artes e Comunicação. Tenho a plena consciência do papel indelével dos professores na minha formação: da professora Leocí, da primeira série; da amada professora da minha terceira série, uma senhora de óculos baixos e voz amorosa; da professora Leonir, diretora da minha escola primária, São João, que me recebia compreensivamente em sua sala, inúmeras vezes; da professora Tania Maria Von Meusel (Escola de Ensino Fundamental St. Patrick), minha professora no Magistério, que fez meus olhos brilharem falando de aprendizagem e com quem, hoje, compartilho a formação do meu filho; das professoras Cilene Maria Potrich e Tania Mariza Kuchenbecker Rosing, que nunca me deram aula em sala de aula, mas me ensinaram muito, de formas que eu nem consigo mensurar (sem dúvida, mulheres a frente do seu tempo); do professor César Augusto Azevedo dos Santos, meu Amado Mestre, que guiou meus passos na pesquisa e na docência, que mostrou que aprendemos juntos; do professor Benami Bacaltchuk, que sempre confrontou carinhosamente, mas incansavelmente, as minhas certezas, porque é fazendo perguntas que movemos o mundo (e ele sabe disso); do professor Roberto Ramos, meu herói na investigação acadêmica e na descoberta das evidências de que a produção de conhecimento científico tangibiliza o cotidiano, o ressignifica, e na revelação de que fazer pesquisa é um ato político; e de muitos professores nessa trajetória, que não mencionei aqui. Sobretudo, dos meus pais, Dolores Barbosa de Paula e Vlademir Alexandre Menegaz, que além de serem meus pais e a força da minha existência, são de profissão, professores, professores que fizeram a diferença na vida de muita, mas muita gente, professores de quem tenho o mais profundo orgulho.

Além da história particular que tenho com a professora Djanira, naquela noite de samba, e hoje, escrevendo este texto, ela também foi/é, para mim, um portal. Um portal através do qual enxergo, mais uma vez, todos esses professores, e, mais do que isso, enxergo e tangibilizo o inextinguível papel dos professores na vida das pessoas, como fontes de inspiração, como faróis numa noite escura, em meio ao desconhecido, que é como todo futuro (e, as vezes, o próprio presente) pode parecer.

Djanira foi uma professora que fez a diferença na minha vida, assim como provavelmente fez a diferença na vida de muitas, muitas outras pessoas, na sala de aula ou fora dela. Agora ela se foi. Mas sua partida não deixa um vazio, deixa um legado. Obrigada, professora.
A foto roubartilhei do face do filho dela, Odorico.

Diálogo XII - com os professores

Há cerca de duas semanas, fui com meu filho de 04 anos numa roda de samba, organizada pelo Grupo Ritornelo de Teatro. Lá, para minha surpresa, encontrei a professora Djanira. Surpresa, porque ela foi minha professora na 6ª, 7ª e 8ª série, há quase 30 anos, e a vi poucas vezes depois disso. Mas ela estava lá, com toda a sua força e sua negritude, e nos presenteou com sua voz. 

Para mim foi uma oportunidade única, bem a tempo. Quando a vi, tive de me aproximar e dizer, rapidamente: "- oi professora, que bom lhe ver, fui sua aluna no IE". Ela me olhou, sorriu e disse: - eu lembro.

Não sei exatamente, se ela lembrou mesmo ou não, mas não importa. Djanira foi professora de muita gente, e toda essa gente teve a oportunidade de aprender com ela, aprender uma paixão pela vida, a força da natureza de quem somos, aprender a olhar para dentro, enxergar o nosso potencial.

Para uma menina bugra do interior, filha de professores, em escola particular, muito estudiosa e acuada diante do abismo da diferença social, financeira e cultural que havia entre ela e os colegas, diante do bullying naturalizado, só a presença e o brilho dessa professora já era suficiente. Mas Djanira foi além: ela me incentivou a entrar para o coro da escola, a fazer teatro, me preparou para provas de poesia e oratória da Olimpíada Metodista, e esteve presente para conversas permanentes. Fica sempre numa sala ótima, no miolo do "rendondão".

Foi o teatro que me ajudou a pagar a minha faculdade, anos depois. Hoje sou Diretora de uma Faculdade de Artes e Comunicação. Tenho a plena consciência do papel indelével dos professores na minha formação: da professora Leocí, da primeira série; da amada professora da minha terceira série, uma senhora de óculos baixos e voz amorosa; da professora Leonir, diretora da minha escola primária, São João, que me recebia compreensivamente em sua sala, inúmeras vezes; da professora Tania Maria Von Meusel (Escola de Ensino Fundamental St. Patrick), minha professora no Magistério, que fez meus olhos brilharem falando de aprendizagem; das professoras Cilene Maria Potrich e Tania Mariza Kuchenbecker Rosing, que nunca me deram aula em sala de aula, mas me ensinaram muito, de formas que eu nem consigo mensurar (sem dúvida, mulheres a frente do seu tempo); do professor César Augusto Azevedo dos Santos, meu Amado Mestre, que guiou meus passos na pesquisa e na docência, que mostrou que aprendemos juntos; do professor Benami Bacaltchuk, que sempre confrontou carinhosamente, mas incansavelmente, as minhas certezas, porque é fazendo perguntas que movemos o mundo (e ele sabe disso); e de muitos professores nessa trajetória, que não mencionei aqui. Sobretudo, dos meus pais, Dolores Barbosa de Paula e Vlademir Alexandre Menegaz, que além de serem meus pais e a força da minha existência, são de profissão, professores, professores que fizeram a diferença na vida de muita, mas muita gente, professores de quem tenho o mais profundo orgulho.

Além da história particular que tenho com a professora Djanira, naquela noite de samba, e hoje, escrevendo este texto, ela também foi/é, para mim, um portal. Um portal através do qual enxergo, mais uma vez, todos esses professores, e, mais do que isso, enxergo e tangibilizo o inextinguível papel dos professores na vida das pessoas, como faróis numa noite escura, em meio ao desconhecido, que é como todo futuro (e as vezes o próprio presente) pode parecer.

Djanira foi uma professora que fez a diferença na minha vida, assim como provavelmente fez a diferença na vida de muitas, muitas outras pessoas, na sala de aula ou fora dela. Agora ela se foi. Mas sua partida não deixa um vazio, deixa um legado. Obrigada, professora.


Sobre minha mãe

A minha mãe é demais, e como Vó é um barato😎! Mas o mais legal, é que a minha mãe é uma vó que ainda me deixa ser filha. Quando a gente vira mãe, o mundo vira de cabeça para baixo, e no meio dessa bagunça que vira a vida, da preocupação de cuidar de alguém, é muito bom ter alguém que cuida gente. A minha mãe é daquelas que ainda diz: “leva um casaco”, “vê se come direito”, “tá com olheira, vai descansar”. E ela também faz comidinhas gostosas pensando em mim, me liga quando tem promoções no supermercado (💸kkkk), me lembra das consultas médicas e dos lugares onde eu guardei as coisas (as vezes, sou esquecida kkkk). Ela sempre sabe quando eu preciso de algo (especialmente ajuda, colo ou chamada de atenção) e misteriosamente meu celular toca, bem na hora que eu peguei para ligar para ela, ou recebo um zapzap (já perdi a conta das vezes que isso aconteceu). E é claro, tudo isso reflete no Pedro, o filho da filha ❤️. Te amo demais mãe.


Uma carta para Pedro (diálogo XI)

Filho, te escrevo hoje porque, talvez, daqui há alguns anos, quando puderes compreender, terei perdido as palavras para falar do agora. Te escrevo hoje, porque hoje é o teu aniversário, e só o hoje tem esse sabor de presente, um sabor que quero suspender no tempo, um sabor que quero saber e compartilhar contigo para todo o sempre. Te escrevo para prender na escritura o calor que amor(na) minha vida desde que chegaste. Um calor de cobertor leve em dia de chuva, um calor de corpo que aquece, um calor de aconchego, um calor de amor que está sempre por perto, correndo pela casa. Um calor de verão ensolarado, para brincar na beira do rio ou do mar, para rolar na grama das praças, para comer fruta gelada. Por isso, teus sorrisos fazem dos meus dias brisa, e tuas febres, dos meus dias angústia. Mudaste não apenas o centro de gravidade do meu corpo, mas se converteste em centro, um centro em torno do qual orbito, fascinada.

Te observo, por exemplo, repetidas vezes, acordar de manhã e sair pelo apartamento procurando o gato só para perguntar-lhe: "tudo bem Iggy, você está bem?", mesmo sabendo que o bicho não vai lhe oferecer uma resposta convencional, e te amo todas as vezes por isso. Te amo quando, como por encantamento, conecta-se com algum desconhecido na rua ou numa história, para sentir: "mamãe, a moça está triste", ou quando conclui que está se divertindo com algo: "que legal! uau". Te amo quando, entre uma brincadeira e outra, sempre volta para os instrumentos musicais. Não importa se são de metal, madeira, plástico, isopor ou lata. Não importa se produzem um som real ou de faz de conta. O importante é toca-los. Te amo quando o capricho da vida nos permite passar muito tempo juntos, e então ganho muitos abraços espontâneos e sorrisos de amor. Aliás, amo o teu riso fácil, e as espiadas com o canto do olho. Amo quando te disfarças de gente crescida para apoiar a mão no queixo, ou os braços na cintura e fazer caras e bocas. Amo quando tira do bolso expressões ou frases surpreendentes e engraçadas, sempre na hora certa: "ups", "que chato", "boa ideia", "você é uma gatona mamãe" (hehehe). Te amo ao perceber que te perdes por alguns minutos no mundo da imaginação e brincas contigo mesmo, ou quando transforma um degrau na soleira de uma porta em sofá e o reflexo da lataria de um carro em televisão, esticando o braço e dizendo: "pip, pronto, liguei a TV mamãe". Qualquer lugar é lugar, tudo é novidade, tudo ainda pode ser brincadeira. "Porque vc parou Pedro?", "para olhar se vem carro, mãe". Amei o dia em que você, sei lá por qual razão, trocou o "mamãe" pelo "mãe". Não vou esquecer: era domingo, 28 de maio. Amo a tua generosidade, que gosta de cavalos, como o vovô Menegaz, de trens, como o vovô Darci, de skate, como o papai, de livros, como a mamãe, ou de plantas como a vovó Dodoi. Uma generosidade que te permite compartilhar, especialmente, e com cada um, aquilo que lhe desperta amor.

E te tanto te amar, meu menino, meus desejos para ti transbordam. Desejo que conserve uma medida saudável desse sorriso ingênuo e alegre que carrega nos olhos, e outra medida equilibrada desse moleque arteiro e persistente. Desejo que o bom senso te acompanhe, assim como a integridade e a ética. Desejo que saiba ver e ouvir o outro, reconhecer e, sobretudo, celebrar a diferença. Que esteja ao lado da liberdade, de escolha e de voz, assim como da igualdade, daquilo que nos une como humanos. Desejo que aprenda a respeitar o meio ambiente e valorizar a natureza como lugar e abrigo de todos os seres vivos. Desejo que cultive a leitura como prática cotidiana, que conheça a História (a tua, a dos outros e a do mundo) e que defenda as Artes e a diversidade cultural. Desejo que conheça pessoas e as perceba em sua complexidade, e que teu coração possa vibrar em cada um desses encontros. Desejo que tua imaginação frutifique, ao mesmo tempo em que tuas raizes se fortaleçam no mundo vivido: coisas lindas e transformadoras podem vir desse cruzamento! Desejo tudo isso hoje e desejo tudo isso sempre! Feliz aniversário meu amor.

Texto publicado originalmente em junho de 2017.

Postagens mais antigas Página inicial
    ****

    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

    ****

quem é a garota da vitrine?

Minha foto
Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

****

pelo caminho...

pelo caminho...
lendo... só lendo e imaginando uma história da nossa suposta história...

O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

****

o que são scriptografias e outras escrivinhações?

O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



    Seguidores


Recent Comments