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Da série: #oconjuntoqueapavora


E, sobre algo que li hoje, “Se você não está com medo, você não entendeu.”

1. Rio de Janeiro. Marielle Franco: mulher, negra, vereadora, relatora da Intervenção no RJ. Executada com 4 tiro na quarta-feira, dia 14 de março de 2018. https://oglobo.globo.com/…/vereadora-marielle-franco-assass…

2. Brasília. Mikael Tavares de Medeiros: jovem de 19 anos, ensino médio concluído (com recuperação), experiência como vendedor de óculos, nomeado pelo Ministério do Trabalho para coordenar a área de recursos logísticos, o que inclui a responsabilidade de controlar contratos milionários. Caso revelado no dia 09 de março de 2018. https://g1.globo.com/…/jovem-de-19-anos-administra-contrato…

3. São Paulo. Servidores públicos, na maioria, professores municipais, protestam em frente a Câmara de Vereadores contra o projeto de reforma da previdência municipal. O tumulto começou quando os manifestantes foram proibidos de entrar na Casa e uma bomba foi lançada de dentro da Câmara em direção dos manifestantes. 14 de março de 2018. http://sao-paulo.estadao.com.br/…/geral,protesto-de-profess…

4. Passo Fundo. Câmara de Vereadores aprova lei que barra a operação do Uber na cidade e colide com o Marco Civil da Internet. 9 de março de 2018. http://www.onacional.com.br/…/lei+municipal+barra+a+operaca…

5. Passo Fundo. Durante uma desocupação de famílias Kaigans de uma área do DNIT, policiais militares atiram 10 balas de borracha na perna de um dos líderes da comunidade, Querino Carvalho. 17 de fevereiro de 2018. https://www.cimi.org.br/…/policia-militar-agride-e-tortura…/

Das coisas que aprendemos

Passo Fundo, 08 de março de 2013.

Acabei de assistir ao documentário “Tropicália”, de Marcelo Machado. Suspirei um pouco, ri um pouco, chorei um pouco e lembrei porque documentários são feitos e porque escolhi ser jornalista.


Em certo momento, durante o filme, Caetano aparece (no auge do Tropicalismo) sendo vaiado, enquanto canta "É proibido proibir". Diante do público inquieto, derrama:
- "se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos."

Essa frase me atravessou (e o que somos senão sujeitos construídos por atravessamentos?). O extraordinário de ouvi-la hoje, é que permite compreender como, mesmo quase quarenta anos depois, sua música, sua arte e as dinâmicas disparadas pelo grupo tropicalista ainda podem ser ressignificadas.

Sim, porque penso que poderíamos repetir o axioma do artista diante do cenário estético e político do Brasil hoje. Mais do que isso, temo que Caetano tenha previsto o futuro.

Vejo abismada que nossos eleitos são tão corruptos, fracos ou incompetentes quanto o gosto musical predominante. Gosto esse pautado por um tipo de canção, cujas letras promovem a objetivação da mulher, degradam seu papel social, e reproduzem/fortalecem um estereótipo, que historicamente tentamos desconstruir, e que eu não gostaria de deixar de herança para ninguém.

Bingo. É para isso que servem os documentários, e é para isso que serve o Jornalismo. Para não nos deixar esquecer, nos acordar para o passado, para estabelecer conexões, para nos lembrar de que a história é cíclica, polissêmica, e que ao olhar para ela temos a oportunidade de compreender o presente e antecipar/transformar o futuro. 

Mau exemplo... (diálogos IX)


com Lúcia Guimarães, sobre o diploma de jornalista

Aos que concordam com o texto de Lúcia peço desculpa pela insistência, mas sou obrigada a me opor, total e integralmente, a ele (a redundância é proposital).

Repeti inúmeras vezes em sala de aula, e sigo lembrando cada vez que o assunto vem à baila, que não sou a favor da obrigatoriedade do diploma, mas sim da obrigatoriedade do processo de formação.

Hoje, do modo como a legislação foi aprovada, qualquer um, qualquer um mesmo, pode ser jornalista. Tendo ou não o primeiro grau completo, sabendo ou não escrever, basta que a empresa lhe ateste a habilidade e temos mais um registro expedido por aí. Sim, e tenho visto isso acontecer inúmeras vezes, em especial para pessoas que sequer deveriam chegar perto da redação de um jornal, emissora de rádio ou televisão, pois legislam em causa própria.

Ao ler o trecho “Jornalista deve estudar, acima de tudo, português e se educar em história, literatura, economia, ciência, filosofia e ciência política”, me pergunto: onde será que todo este conteúdo, toda essa bagagem referencial, será construído e/ou ampliado se eliminarmos a graduação? Uma péssima experiência em determinada escola de comunicação não pode servir de exemplo para a eliminação imediata de todo um processo de construção da consciência do lugar social de uma profissão e dos seus profissionais. Existem péssimas escolas de medicina, de direito, de pedagogia, e nem por isso sugerimos que elas sejam eliminadas, ou a obrigatoriedade do diploma seja questionada para o exercício de determinadas funções.

Além disso, o jornalismo não é apenas uma área de trabalho atravessada por outras disciplinas (que devemos, portanto, minimamente conhecer), mas o trabalho de construção/reprodução de um discurso constituído pela conjunção dos campos simbólicos da experiência cotidiana. Nossa matéria-prima é a linguagem, e o modo como a utilizamos pode reforçar ou transformar o mundo que nos cerca. Por isso, toda vez que a sociedade muda, muda a linguagem que ela utiliza, ou vice-versa. Onde vamos adquirir essa consciência e qual é o processo que vai nos colocar a par de nossa responsabilidade?

Eu nunca acreditei que a faculdade nos preparasse para o mercado. Minha crença se estabeleceu no potencial que um grupo de sujeitos, concentrados especificamente nisso e dedicados a acordar debates sobre o assunto, têm de apontar direções (múltiplas), inquietar aprendizes, reconstruir. Para mim a graduação em jornalismo é isso; uma coisa que as redações e a corrida contra o relógio, não permitem. Já presenciei muito jornalistas serem engolidos pela factualidade do mundo. Já vi muita gente que foi para o “mercado” e nunca mais pode estudar literatura, economia, ciência, filosofia, política, ficando, consequentemente, preso a uma percepção generalizada e pontual da história.

Além disso, suspeito muito de alguém que pergunta o que perguntou Lúcia Guimarães em seu texto:  O que tem a democracia a ver com a profissionalização do jornalista? Bem se vê que ela não levou a faculdade a sério, se tivesse saberia que junto com a profissionalização, vem uma técnica do bem escrever, a sabedoria do que respeitar, as discussões éticas próprias desse fazer. Também saberia ela a diferença entre um jornalista e “qualquer um munido de smart phone”. Trata-se da diferença dos objetivos: suas preocupações, suas demandas podem ser completamente diferentes. “Qualquer um” pode publicar qualquer coisa, seu único compromisso é consigo próprio. Já o jornalista não pode, ele tem que publicar aquilo que diz respeito e é relevante para vida em sociedade, para a preservação da igualdade e da justiça social, embora, devo admitir, muitos jornalistas diplomados esqueçam isto. Assim como alguns advogados e outros tantos médicos também ignoram os juramentos que fizeram. Mas, como no caso das escolas, maus profissionais não justificam a fim da profissionalização.

É um debate aberto, não sou contra os bons argumentos e já ouvi muitos sobre esta questão, inclusive contrários aos meus. Respeito-os. Mas não venha querer justificar decisões políticas (não políticas partidárias, mas daquelas que dizem respeito a ordem das coisas no mundo) com maus exemplos. Eliminar a obrigatoriedade do processo de formação para jornalista é o mesmo que proibir os professores das escolas públicas de reprovar alunos.

“Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo” (Michel Foucault).

Kanhgág-vi: a palavra do índio

Alguns alunos do curso de Jornalismo da UPF foram fazer intercâmbio em Coimbra – Portugal, e de lá me escreveram pedindo que respondesse algumas perguntas sobre a experiência que tive com um programa radiofônico realizado junto a comunidade indígena Kaigang da nossa região. O projeto se chamava “Kanhgág-vi: a palavra do índio no rádio”, e durou 3 anos. A entrevista foi publicada num site experimental que os alunos estão produzindo e agora compartilho com vcs:

Como foi o trabalho em relação as diferenças culturais? Era uma questão relevante? 
Sim.O objetivo do nosso projeto era produzir um programa radiofônico de 10 minutos para ser veiculado nas emissoras de rádio próximas a reserva. Queríamos garantir um espaço na programação radiofônica para esse grupo de pessoas em sua região de abrangência: o índio falando para o índio. Acreditávamos que esta proposta valorizaria uma característica inerente do rádio que é a personalização, ou seja, uma programação com a qual o ouvinte se identifique. Também observávamos que nenhuma emissora privilegiava o segmento em sua programação, o que não refletia a pluralidade do público que a escutava. Era um trabalho muito difícil e levamos quase dois anos para nos dar conta de que não era exatamente isso que os índios queriam. Seu propósito ao participar do projeto (aceitar nossas visitas, colaborar concedendo entrevistas e dividindo sua história conosco) não era construir um espaço com o qual se identificasse. Isso era o que nós achávamos importante. Para eles o que era fundamental era compartilhar a cultura indígena como não-índio. Certa vez uma cacique me disse: - precisamos que o não-índio escute o que temos a dizer, conheça nossa cultura e talvez assim aprenda a respeitá-la. Mais do que isso, hoje entendo que o que eles desejavam era eliminar nossa mediação e produzir por si só seus programas, gestar sua fala, organizá-la de uma forma muita peculiar a íntima.



Quais foram os desafios enfrentados para com a linguagem e a comunicação? 
Talvez o mais importante desafio que enfrentamos durante o projeto tenha sido o reconhecimento de que o índio tem um tempo próprio, de reflexão e fala. Para mim sua principal característica era o silêncio, longo e contundente, seguindo de uma onda de ponderações carregadas de tradição. Me parecia, a cada novo encontro, em diferentes reservas, que embora seu cotidiano se passe na contemporaneidade, o índio estava de algum modo conectado com o passado; que embora tenhamos cometido muitos erros por meio de um processo de aculturação na construção do Brasil, esse cordão umbilical não conseguimos cortar. Isso explicaria, por exemplo, porque os índios não conseguem se adaptar a vida fora da reserva. Conheci e trabalhei por alguns anos com um índio. Ele era estudante de história. Não tinha problemas financeiros, ou de discriminação na Universidade, mas percebíamos que ele sofria para se adaptar aqui: o ritmo que nos leva do pensamento a ação era muito diferente do dele. Depois de um tempo, quando perguntava algo a um índio eu já sabia que teria que esperar por alguns minutos até que as respostas fossem construídas. – é preciso pensar, é preciso pensar, era o que conselheiros e caciques me diziam. Acredito que essa herança, que pondera, é uma das responsáveis pela resistência, mesmo “abaixo de mau tempo”, de uma cultura que tem sido tão ignorada e soterrada pela sociedade do consumo na qual estamos metidos.

Alguma lembrança ou história que guarde do projeto? O que aprendeu com ele? 
Aprendi que fizemos e ainda fazemos coisas erradas em nome de coisas pretensamente certas para justificar a estrutura e a dinâmica de um país em desenvolvimento. Que é muito difícil exercitar nossa alteridade e reconhecer o outro como diverso de nós; em perceber e aceitar que por alguma razão ele está desconectado do cotidiano que conhecemos e, finalmente restaurar os nós de ligação. Temos o hábito de querer que o outro seja nossa imagem e semelhança, queremos espelhos feito Narciso, e levamos um tempo enorme para perceber que sua diferença é o que ele tem de mais precioso e que podemos aprender com ela.

Depois de trabalhar com as tribos, quais você acredita serem as principais dificuldades enfrentadas por elas, hoje no Brasil? Eles cultivam e ou preservam as suas tradições? De que forma?
Entendo que essas três últimas questões estão interligadas. A partir da minha observação e do tempo que convivi com as comunidades indígenas, penso que a principal dificuldade enfrentada por elas no Brasil hoje (e sempre) é a preservação de sua tradição e, consequentemente, da sua identidade. Nesse sentido, uma das coisas mais valiosas para uma cultura é a sua língua, a linguagem, o conjunto e a dialética dos signos que estabelece para se representar. Na língua, modo perene de comunicação de um povo, está expressa toda a sua cultura, suas relações de poder, seus jogos, seus rituais, convenções e crenças. Então, o que significaria roubar-lhe ou sufocar-lhe o direito de fala-la? 



Os povos Kanhgág no sul do Brasil estavam esquecendo sua língua (essencialmente oral). Apenas os anciãos falavam Kanhgág e a maioria deles estava morrendo. Foram necessários os esforços conjugados da FUNAI, das instituições de ensino da região e dos povos indígenas para conter este desaparecimento. Professores índios, atuando em escolas indígenas, passaram por um curso de formação bilígue e construíram um sistema de escrita para o kanhgág com o objetivo de que as crianças aprendam a língua materna de seu povo e a preservem. Problema resolvido? Não. Este, talvez seja só o mais grave deles e o reflexo da negligência com nossa trajetória histórica. Aos esquecermos dos povos indígenas, corremos o risco de esquecermos de nós mesmos.

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O que fazemos com as coisas que lemos no jornal?

*texto publicado originalmente e na íntegra na edição especial em comemoração as 86 anos do jornal 

“Nunca lhe aconteceu, ao ler um livro, interromper com freqüência a leitura, não por desinteresse, mas, ao contrário, por afluxo de idéias, excitações, associações? Numa palavra, nunca lhe aconteceu ler levantando a cabeça?” Essa é uma frase do livro Rumor da língua, escrito em 1988, por um autor francês chamado Roland Barthes. Poderíamos entendê-la de inúmeras formas, mas me agrada pensar que se trata da capacidade que todo texto tem de acordar em nós, leitores, outros textos, aqueles que vamos guardando vida à fora no imenso reservatório da memória. 

Como quem monta um quebra-cabeças, vamos juntando todas as peças disponíveis: as que já tínhamos e as novas, encaixando umas nas outras e formando uma imagem,  ou seja, a nossa interpretação sobre aquele texto. Por isso dizemos que todo leitor é co-autor do texto que lê, porque é ele quem constrói o significado do que está lendo a partir da sua bagagem cultural, e que ao acessar um texto, qualquer um, encontra a si próprio refletido nas águas da leitura. 

Nós somos o que somos à media que vamos lendo e escrevendo o mundo ao nosso redor, não apenas com as letras, mas com os sons, com as fotografias e com as imagens em movimento produzidas e espalhadas por aí. Então, um filme ou um livro guarda em si dois segredos: a história da sociedade na qual ele foi escrito e a história de cada leitor que abre suas páginas, pois junto com elas abre também todas as suas leituras anteriores, as suas crenças, os seus valores e a suas experiências de vida.

Alguma razão para os textos jornalísticos serem exceção a essa dinâmica? 

Eu carregava esta pulga atrás da orelha, porque sempre fomos enganados pelo mito da imparcialidade jornalística, do puro relato informativo. Me perguntava como construir uma interpretação diferente, uma percepção minha da verdade, sobre uma verdade já decretada pelas páginas do jornal. Qual seria a contribuição do jornalismo, um exercício público, para a construção dos sujeitos, da individualidade das pessoas?

Movida por este pulga iniciei meu estudo de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de Rio Grande do Sul em 2008, e como objeto de análise escolhi o jornal O Nacional, em dois tempos: no registro do caso Clodoaldo, em 1979, e depois da virada do século no relato do caso Adriano da Silva. Algumas vezes me perguntaram por que escolher um jornal local para uma tese de doutorado, qual era a sua relevância?

Ao investigar O Nacional descobri, reveladas pelas tramas da narrativa jornalística de dois séculos, que as possibilidades de leitura em certas ocasiões transcendem essa instância da objetividade jornalística estabelecendo um vínculo ainda mais estreito entre o leitor e o texto. Através da leitura, reconhecemos o outro, nos reconhecemos, questionamos o lugar, o compromisso do sujeito com o mundo e ressignificamos a história como produto contingente. Ou seja, as imagens, as notícias publicadas nas páginas do jornal, nos dizem de diferentes formas, que somos responsáveis por esta história que está sendo escrita, que fazemos parte dela.

Descobri que cada notícia pode guardar em si uma surpresa, exigindo que nos questionemos sobre quem somos, sobre nossa identidade: o que nos aproxima ou nos distingue do outro, personagem do texto e, afinal, qual é a nossa contribuição para transformar essa realidade noticiada? 

Olhando para O Nacional, um veículo de circulação local, percebi a evidência de um dado universal sobre o jornalismo e sobre nosso papel como leitores. E para mim aqui está o grande valor deste jornal.

Perguntas armadas

Ontem à noite li a matéria de capa da Zero Hora. Geralmente leio o jornal à noite, no reduto do meu sofá, mesmo que eu ouça, freqüentemente, que há esta hora, as notícias já estejam velhas. É um hábito.

Li, e à cada duas linhas não pude calar a pergunta (porque somos pessoas perguntadoras): como o debate foi chegar a isso? Depois das últimas ocorrências no Realengo/Rio, a culpa da violência desenfreada que nos assoma é das armas e não das pessoas, ou das políticas?

Ok. Então, vamos meter mais um referendozinho ou um plebiscito, quem sabe, para resolver a questão. Mas já não fizemos algo parecido alguns anos atrás? Por que, em tão pouco tempo, voltar a consultar a população sobre o mesmo assunto, havendo tantos outros para por em discussão. Alguém quer aproveitar um momento de choque da população para provocá-la a responder ao contrário do que já havia sido decidido? Ou alguém quer esconder sua responsabilidade gastando tempo e dinheiro para revogar uma norma recentemente aprovada.

Toda esta mobilização, que se traduz ao observarmos as capas dos jornais, a escalada na tv, e o tempo gasto pelos parlamentares e pelas ONGs se debatendo em suposições, me acorda para um sentido outro que o tema (armas), agora constituído em narrativa, oferece. Como se a problematização em torno delas sintetizasse toda a explicação da tragédia social recentemente vivida; à moda de um Deus Ex-Machine (para citar o prof. Roberto) que surge absoluto, com o objetivo de proporcionar conforto e redenção aos sujeitos apavorados diante dos fatos. Sua enunciação aparentemente anula a distância estabelecida entre eles e a compreensão racional e imediata da realidade representada; lastro esse que estava garantido até aqui pela imanência característica do discurso adotado. Como se o porte de armas concedido a população civil guardasse em si toda a obviedade que não conseguimos significar antes dele, como se nos proporcionasse a confortante explicação para a aparente “loucura” do homem e para a morte das crianças.

Mas, ao contrário, penso que reclamar, agora, por novas votações, rouba a complexidade dos fatos que a antecedem - esvazia-os, empresta-lhe um postulado -, ao mesmo tempo em que nos descompromete de qualquer intervenção. Suponho que ao ler a reportagem especial de ZH, no sofá de casa, a meia luz, tomando uma xícara de chocolate quente num dia de chuva, poderia alimentar uma impressão ainda maior de conforto do que a situação em si já representa. O debate em torno das armas é como uma esponja mágica que limpa todo o sangue e a dor expostos nos dias anteriores e me oferece um noticiário “limpinho”, “for, for way”. Poderia, senão fosse a nossa habilidade, às vezes pouco valorizada ou desenvolvida, de interpretação, que inquieta. Principalmente quanto à poucas páginas dali, leio um texto sobre determinada lei uruguaia, que dava anistia a criminosos do período ditatorial no país. Mesmo depois de duas consultas populares que a apoiavam, e diante de um governo legitimamente escolhido pelo povo, foi revogada... por esse próprio governo.

Credo! Falando assim até me sinto adepta de algum partido ultraconservador ou mafioso que apóia o porte de armas e a redenção de criminosos.

Mas a questão de fundo não me parece ser esta, e sim o questionamento do que é a democracia, de qual o nosso poder de transformação da realidade social, das lentes que escolhemos ou que nos emprestam para ver o mundo, daquilo que nos cega; mais do que isso, das desculpas (as armas, a caça as bruxas) que procuramos - ou nos são oferecidas - para todas as culpas que carregamos (sociais, políticas); dos pesos que queremos aliviar, das perguntas erradas que fazemos, e das perguntas que não queremos fazer.

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"O que é o que é?" e as lentes da Dialética


Como as pessoas são perguntadoras! Estamos invariavelmente fazendo perguntas, inúmeras perguntas, de todos os tipos: como vão às coisas? qual é a raiz quadrada de PI?; embora eu desconfie que a maioria das respostas quase nunca é utilizada pelo perguntador, são apenas coisas que ficam empilhadas em sua memória. Eu disse a maioria. Restam, por exemplo, as perguntas sinceras de nossos pais e amigos sobre como estamos, ou as perguntas de pesquisa. Mas, mesmo algumas desse último tipo, ainda estão sujeitas a um efeito de inatividade parecido.

Talvez por isso, às vezes, também guarde a impressão de que algumas perguntas vão cair de moda: poxa, mas quantos anos você tem mesmo?; ou são invasivas: porque você não atendeu o celular?; ou ainda, despropositadas: qual a densidade de uma toalha para secar elefantes? Mas quando eu menos espero, são elas que me assaltam. Dia desses me pediram para escrever sobre “o que é ser jornalista?”, como se eu soubesse... Já nem sei mais o que é o jornalismo, que dirá a odisséia de seus desdobramentos. Aliás, para mim, essa é do tipo démodé, até porque somos muitas coisas.

Além disso, definitivamente não simpatizo com perguntas que começam com a injunção “o que” ou “qual” ou “quantos”. Digo isso porque as percebo como reféns de um vocabulário (e, portanto, de uma cultura) positivista, e freqüentemente levam a uma noção equivocada de precisão. Diante delas temo que qualquer resposta converta-se imediatamente num muro alto e intransponível em torno do nosso trabalho, um limitador da nossa ação, função ou compromisso, na medida em que ao afirmar que somos isso, acabamos conseqüentemente negando que somos aquilo, numa simplificação confortável (e, talvez, facilmente aceita) da complexidade do nosso trabalho e da responsabilidade inequívoca da nossa intervenção sobre a realidade. Assim, a reposta, e sua reprodução irrefletida, de boca em boca, serve aqueles que insistem em nos impor restrições: de um lado para garantir certa reserva de mercado, de outro para “nos colocar em nosso devido lugar”. Que lugar é esse e quem determina que ele nos é devido, é uma outra possível discussão.

Enfim, trata-se do translingüístico refletido na linguagem, a expressão de uma idéia de real cercando o potencial de transformação de seus agentes. Como as lentes através das quais eu enxergo o mundo são Dialéticas Históricas-Estruturais (DHE), penso que perguntas assim estão completamente fora de moda. Séculos depois do reconhecimento da ciência, já sabemos que nem tudo pode ser resolvido sob a luz da quantificação ou precisão; os fenômenos sociais especialmente.

Portanto, não quero, ou não posso dar conta desta pergunta. Prefiro responder por que fazemos o trabalho que fazemos, ou como o fazemos.

Li, recentemente uma entrevista com Paulo Fehlauer, publicada no site Jornalismo Digital, onde ele utiliza expressões como “arquitetura narrativa” e “narrativa hipermídia”.

Então, gosto de pensar que somos par dos narradores, que produzimos narrativas, escolhemos dados para compartilhar, histórias para contar, por meio das quais vemos reveladas nossa subjetividade e, portanto, também por meio das quais o sujeito leitor percebe a sua, como um exercício contínuo de alteridade que tem como magma a realidade social.

Seria bom se o fizemos nas margens: das palavras, das imagens, dos sons, enfim, da ideologia expressa pelo modo como esse conjunto de signos está arranjado, na sedimentação dos sentidos que carregam, subvertendo-a através das estruturas, das linguagens e da convergência.

Mas essa não é uma resposta completa.

XII Semana Acadêmica da FAC

Nosso evento está supimpa, tem até show com Hermeto Pascoal. Participe!



De 18 à 22 de outubro - inscrições abertas!

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Ridículo?

Segunda, 13 desetembro de 2010.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 02:20


Fazia muito tempo que eu não assistia TV. Claro que ao longo do dia, em um ou outro momento, acabo ligando o monstrengo no meio da sala. Mas aqui em casa, ele serve apenas para ver alguns filmes, e essencialmente para poluir sonoramente meu ambiente, enquanto ando pra lá e pra cá, no intervalo do almoço ou da noite, arrumando alguma coisa.

Mesmo assim, de quando em quando, me pego pensando nessa relação que temos com a TV e o tal potencial de invisibilidade tão perseguido por alguns designers da microinformática, que ela já atingiu há tempos.

Dizemos que a TV não tem cerimônia, não exige ritual, nem sequer demanda nossa atenção; não precisamos racionalizá-la: basta ligar um botão e todo resto acontece, como num passe de mágica, que, aliás, nem é tão mágico assim (agora sabemos: afinal, o Youtube e as câmeras digitais já nos ensinaram uma porção de coisas).

Hoje, contrariando a rotina, lá pelas 10h da noite resolvemos assistir TV. O Diego disse: “- coloca na Globo, faz um tempão que eu não vejo o Fantástico!”, e passados os primeiros minutos, exibindo a “cobertura” esportiva (está entre aspas porque eu não chamaria isso de jornalismo, parece mais anúncio pago), quase tive uma síncope!

É nestas hora que eu me pergunto: - o que eles estão pensando? Não há nada mais importante a ser dito? Não há nem um outro tipo de entretenimento a ser feito? Porque jornalistas se prestam a esse papel? Porque permitem que sua imagem seja usada desta forma?

Estou falando de um reality show que passou logo depois do esporte. Quando me dei por conta, estava assistindo a uma prova ridícula, onde as mulheres colocadas em caixotes e presas num túnel, foram submetidas a presença de inúmeras baratas, aranhas, ratos e cobras. Os animas e/ou insetos, eram depositados sobre seu corpo, enquanto elas arrancavam bandeirolas com a boca. Para finalizar, o quadro é coroado com a apresentação de Glenda Kozlowski, antiga repórter da globo, renomada pela apresentação do Globo Esporte.

Ridículo? Incompreensível, isso sim!

Ridículo é o conteúdo da programação, a minha inteligência sendo subestimada. Ridícula é a seqüência da programação e as personagens que compõe o quadro, uma discurso, cujos signos amarram o jornalismo ao entretenimento, e o esporte as bizarrices artificiais da sobrevivência. Onde é que a direção desta (e provavelmente das demais emissoras) quem chegar? Qual pode ser o resultados intelectual deste tipo de comunicação? Social? Político?

Desliguei a tv...

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não quero falar de futebol

Segunda, 21 de junho de 2010.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 10:56

Havia seriamente me proposto a não falar sobre futebol. Até porque, ao invés de fingir que entendo alguma coisa do assunto, admito: não entendo nadica de nada, não me interesso por campeonatos, e muito menos pelo tema. Aliás, confesso: me incomoda um pouco o jogo de estátua que imobiliza cidades inteiras enquanto a seleção brasileira está em campo. É como se todos nós fossemos obrigados (por extensão patriótica) a querer e a fazer isso durante aqueles 90 minutos, em qualquer dia ou hora da semana.
Sigo firme neste propósito. Aqui não vou falar de futebol, vou falar de jornalismo. A modalidade esportiva em questão é apenas um pretexto para o texto que correu pelo meu pensamento enquanto, mais uma vez, assistia a cobertura jornalística da Copa do Mundo.
Á propósito, nem tenho certeza de que podemos chamar aquilo que muitas das equipes de jornalismo estão fazendo na África, de jornalismo. E, sobretudo, não encontro na sopa de letrinhas sob a mesa palavras qualificadas para nominar o poder de que se investem certas emissoras (ou que lhe outorgamos pela audiência) quando tentam determinar o que e como os times, os técnicos, os jogadores e até os torcedores devem se comportar durante o evento.
Lembro muito bem de toda a campanha, que mesmo antes da Copa começar, já invadia a programação televisiva no país (veículo de maior penetração em território brasileiro segundo pesquisa Cetic.br 2009). Lembro com maior nitidez ainda, do dia em que Dunga anunciou os nomes escalados para defender o hexa da nossa seleção.
Pensando bem, lembro mais da repercussão de seu anúncio do que do anúncio em si, ou mesmo do nome dos jogadores escolhidos.
O fato é que segundos depois da lista ser publicizada, foi como se uma onda de pôxas, deixa disso ou uma série de "muxoxos" tomassem conta da mídia brasileira. A imprensa pareceu insatisfeita com a ausência dos grandes nomes que criou. Dunga não era um aliado (será que foi um dia? nunca me pareceram muito simpáticos a ele).
A partir daí houve um esforço de desqualificação: do time, do técnico (claro) e de muitos jogadores. Cada reportagem publicada, matéria veiculada ou comentário proferido, vinha acompanhado de uma enquete feita com a “população”, citando nomes convocados equivocadamente, sugerindo substituições e invalidando a competência de alguns jogadores.
As avaliações poderiam até vir da boca dos colunistas, mas melhor ainda se fossem reforçadas pela opinião do “povo”, afinal “era o povo brasileiro que estava descontente com aquela escalação”, “tínhamos uma seleção que não fazia jus ao espírito do futebol brasileiro”.
... em tempo: atender a este espírito é uma obrigatoriedade, e mesmo que o mundo e o futebol tenham mudado em 50 anos, uma vez que a mídia esportiva nacional o caracterizou "assim ou assado", só nos resta procurá-lo (nem que seja com uma lupa).
Futebol arte é aquilo que os jornalistas, as emissoras e, sobretudo, os comentaristas, decidiram definir como tal. Grande novidade: mais um signo cercado de um sentido naturalizado, repetido a exaustão...
O link-chamada na página do Globo Esporte de hoje é revelador: "leia e entenda um pouco mais sobre a parte tática do futebol arte"... que tal? é mole ou quer mais?
Mas o cômico de tudo isso foram os acontecimentos subseqüentes. Ao chegar na África, a seleção brasileira evitou o contato exagerado com a imprensa, proibiu o acompanhamento dos treinos, e alguns jogadores nem sequer deram entrevistas no hall do hotel. Os caras queriam paz, concentração, afinal, futebol pode ser o lazer de muitos, mas é também o trabalho de poucos – e um trabalho de responsabilidade, diga-se de passagem (já que 70%, ou mais, da programação dos canais abertos no Brasil, falam disso em detrimento de quaisquer outros tema de interesse público de direito, potencializando a idéia de pertença, por meio do entretenimento, que a frágil identidade sobremoderna procura).
Diante do quadro, ouvi certa noite uma jornalista contar (citação de memória): “parece que o Fulano (não lembro que jogar era) está de mau humor, ou alguma coisa séria aconteceu logo de manhã, porque ele não quis nos dar entrevista”...
Bom, penso que neste caso o jogador foi iluminado pelo bom senso, mas eu não me espantaria se o cara risse na cara da repórter.
Então a imprensa critica o Dunga publicamente até “a quinta geração”, diz que esse ou aquele jogador não está apto à nos representar, que ele é fraco, que existem jogadores melhores, que não foi uma boa escolha... e depois de tudo isso ainda espera que o Fulano, levante da cama de manhã cedo, bem disposto e sorridente, para dar uma declaração... isso é o que eu chamo de piada!
Situação semelhante assisti esta noite, num ao vivo do Tadeu Schmidt, comentando a entrevista coletiva que Dunga deu após o jogo. Enquanto o técnico respondia uma pergunta sobre o Luís Fabiano, um jornalista da Globo, presente, mas ao telefone, achou-se no direito de discordar do técnico, balançando a cabeça em negativa.
Dunga então “em respeito ao mestre jornalista”, perguntou se havia algum problema, e o repórter disse: - não (que curioso). No intervalo entre as perguntas da coletiva Dunga supostamente xingou o cara (supostamente porque o VT foi editado e não pudemos ouvir ou ver os xingamentos); e a emissora, sentindo-se ofendida, produzir um quadro, ao vivo no Fantástico, para comentar o episódio (ou seria repreender o técnico?). No final da intervenção, Tadeu Schmidt, diz claramente: “- Dunga não apresenta nas entrevistas um comportamento compatível com a imagem de alguém tão vitorioso. Com freqüência usa frases grosseiras ou irônicas", resposta, ao que parece, à duas "irregularidades" cometidas pelo técnico :
1) enfrentou e questionou a postura do jornalista;
2) xingou a imprensa (ou o repórter soberbo?) “com palavras impublicáveis”, segundo Schmidt.
Para encerrar o ao vivo, Tadeu reforça e papel e a legitimidade “inquestionável” da Rede Globo: "O que precisa ficar claro em mais esse episódio é que torcemos muito para que a seleção chegue a conquista de mais um título mundial e que a preocupação do jornalismo da Rede Globo é a de levar a melhor informação a você telespectador, independentemente, de que esteja no comando”.
Outra abordagem que me intriga nesta cobertura é o conteúdo e a escolha de determinados temas em pauta, assim como o espaço privilegiado que ocupam na grade de programação das emissoras em canal aberto. Com uma rápida leitura do material encontrado hoje, nos jornais, TVs e web, vemos cenas edificantes de animais nativos, explicações acerca das insuportáveis vuvuzelas, reportagens sobre a “cultura” africana, histórias de torcedores aqui no Brasil e lá no país da copa, culinária típica, hotéis, turismo, enfim, um grande espetáculo de sons e cores, enquanto todos os problemas anteriores a copa continuam existindo, sem contar aqueles outros que surgiram posteriomente a ela, decisões importantes ainda estão sendo tomadas diariamente, sem que fiquemos sabendo, quando, onde e por quem...
Com a narração destes episódios não pretendo defender a competência do Dunga, ou os nomes que ele escalou para compor nossa delegação. Nem mesmo procuro afirmar que ele é o técnico ideal para a seleção brasileira, porque realmente não entendo nada do “cortado” (apesar de gostar e torcer pelo Dunga). O que quero aqui é colocar o papel da imprensa, neste caso, em discussão.
Uma vez definido o técnico (a mais de 04 anos) e os convocados, de que forma os ataques e as duras críticas ao time estruturado cumprem o papel do jornalismo? Isso beneficia a quem? Onde estão as fronteiras entre informação/interpretação e informação/opinião? Qual a diferença entre o trabalho do repórter e do colunista? Entre informação e entretenimento? Que códigos demarcam os espaços e as narrativas dedicadas a um e a outro tipo de abordagem? É papel do jornalista, cujo caráter e lugar está relacionado a produção noticiosa, emitir juízos de valor? A imprensa sentencia e/ou critica as personagens sociais (em particular as notórias) em nome de quem? A quem devemos essa insistência em culpar a personificação da derrota? E o direito de resposta? De forma esse discurso estereotipado (verbal e não-verbal) traduz as disputas de poder entre as instituições midiáticas e o fazer não nominado?
Engraçado, sempre acreditei no esforço de objetividade jornalística, da informação legítima, plural, onde diferentes vozes pudessem ser ouvidas, com um único propósito: qualificar o cotidiano em prol da justiça social. No entanto, como a deformidade e redundância do sentido das coberturas na Copa, contribuem com isso? O meu túnel neste caso não tem saída, nem luz... mas tenho certeza que não é esse jornalismo que quero ensinar ao meus alunos!
P.s.: deixem o cara trabalhar em paz!

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rádio... rádio... rádio...

Domingo, dia 20 de junho de 2010.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 22:08


Existe gente superhiper de olho no rádio! Parabéns!

Divulgação:



Já está disponível o e-book E o rádio?, que reúne textos dos integrantes do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. O livro, lançado pela Editora da PUCRS, pode ser acessado no link http://www.pucrs. br/edipucrs/ eoradio.pdf. Mais dados a respeito no relise em anexo, que está em versões Word 97/2003 e em .pdf.

Luciano Klöckner
(51) 9285-0226
Luiz Artur Ferraretto
(51) 9999-1865
Organizadores da obra

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o revés dos argumentos

Quinta-feira, dia 02 de julho de 2009.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 17:27.
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A percepção de que existe uma interface sensível entre jornalismo e liberdade de expressão não é equivocada, no entanto, o diálogo entre elas se constitui de uma dinâmica crescentemente complexa, mobilizado pelas conexões diacrônicas dos sujeitos e instituições sociais, e pela evolução das tecnologias da comunicação e informação. É esta complexidade que legitima o dever ser dos profissionais do jornalismo e, é justamente por conhecê-la que me inquieto diante das últimas decisões oficiais tomadas a cerca da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.
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Talvez o liame destes conceitos esteja ligado à idéia de que no mundo social, a relação entre os indivíduos acontece, principalmente, através da linguagem, como forma de organizar e compreender a realidade que os rodeia, reforçando a condição do homem como comunicador e revestindo a linguagem e o modo como se manifesta de um caráter público. Como diz um autor português de que gosto muito, chamado João Carlos Correia, no livro Comunicação e cidadania, “é publicamente que nos explicamos, nos justificamos, nos desculpamos, argumentamos e combatemos”. Essa posição permite perceber a mediação simbólica como o processo através do qual o homem reveste o mundo de sentido, na medida em que tenta defini-lo ou explicá-lo. E é possivelmente por este mesmo motivo que Karl-Otto Apel, pensador alemão, tenha falado de uma ética do discurso.
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Acontece que se por um lado o discurso expressa as idéias de determinados sujeitos ou grupos sobre a realidade, por outro, sua publicização está cada vez mais ligada à presença das mídias. Devido à complexidade estrutural alcançada pela civilização, não é mais possível expor e discutir os assuntos de interesse público apenas nas praças e assembléias, como faziam os gregos. Tornou-se necessário ampliar a circulação destes discursos, e por isso, essa discussão acabou escorregando para o plano das mídias. O espaço público, tradicionalmente caracterizado como lugar de debate a cerca da realidade social, não é mais um espaço apenas mediado, mas também, e, principalmente, mediatizado. É através dele, e de toda informação que nele circula, que tais grupos elaboram a diversidade e deliberam sobre os assuntos que afetam a coletividade, construindo e legitimando identidades, e uma série de normas que regulam o mundo vivido.
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Nesse sentido é que dimensiono o papel do jornalista na sociedade, como o responsável por assegurar a vitalidade democrática do espaço público midiático. Isso porque, apesar da evolução tecnológica, que encontra na internet o ápice de sua complexidade, ainda não foi possível consolidar um espaço de comunicação onde todos os homens, indiscriminadamente, tenham tempo de fala. O jornalista trabalha, então, a partir de um contrato social, onde tacitamente torna-se representante do público, privilegiando nos discursos que produz a pluralidade de vozes sociais e expondo todos os dados e acontecimentos pertinentes aos processos políticos, assim como outras informações que possibilitam a manutenção da vida (tanto no domínio público quanto no privado).
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Além disso, a própria internet, que aparentemente possibilita uma comunicação de todos para todos (como disse o autor francês Pierre Levy) ainda não dá conta de eliminar as mediações midiáticas. Mesmo sendo a expressão de um novo modelo de comunicação e sociabilidade – pois alterou os modos de seleção e processamentos das informações, fatos e idéias, ampliou seus fluxos, e redimensionou as condições e critérios para o acesso e controle aos canais de interlocução – ela esta marcada ainda pela exclusão. Diante da velocidade, fluidez e volume de informação disponível no mundo pós-moderno, o domínio da linguagem digital e suas ferramentas, significam o ingresso dos indivíduos nos espaços públicos e a possibilidade de acesso ao poder. Contudo, sua popularização caminha a passos lentos e, por isso, vivemos a euforia de um reduto mais democrático de comunicação em contraponto à marginalização de todos aqueles que não acessam esta plataforma.
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Ora, apesar de haver uma interface significativa entre liberdade de expressão e jornalismo, parece transparente que não podemos confundir o direito constitucional dos falares, com o papel de mediação da realidade plural das culturas, dos conflitos, e das políticas do cotidiano, que é realizado pelo jornalismo. Os profissionais, comprometidos com estes fazeres, sabem que são produtores de conteúdo discursivo, e que deve conhecer e utilizar os códigos de linguagem convencionados pelos distintos grupos sociais, contemplando sua diversidade. Associado a esta tarefa também estão os processos de coleta, análise e edição de informações, além de uma série de outras atividades (relativas ao problema da verdade e da objetividade, por exemplo) que devem, sobretudo, serem pautadas pelos princípios éticos, construídos em mais de 200 anos de histórias e que são próprios do ethos jornalístico. Por fim, cabe lembrar que fazer jornalismo não denota “expressar livremente uma opinião”, porque simplesmente decidiu dividi-la com o público, mas ponderar entre a análise e a interpretação de fatos, construindo um relato sobre o acontecimento em pauta, uma narrativa que o jornalista devolve ao público, porque lhe é pertinente e circunscreve a vida em sociedade. Mais do que isso, refere-se à vida democrática, constituída por um coletivo diverso, que depende daquele relato para colocar-se continuamente em diálogo.
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Não, um diploma não dá este escopo ao profissional, mas a formação que antecede o mérito de direito, é o início sólido para sua caminhada.
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Leia mais sobre algumas questões aqui apontadas, no livro dos autores citados ao longo do artigo:

APEL, Karl-Otto. O a priori da comunidade de comunicação e os fundamentos da ética. In: Transformação da Filosofia II: o a priori da comunidade de comunicação. São Paulo: Loyola, 2000.

CORREIA, J. C. Comunicação e cidadania: os media e a fragmentação do espaço público nas sociedades pluralistas. Lisboa: Livros Horizonte, 2004.

LEVY, P. As tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

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jornalismo é pra jornalista

Quarta-feira, dia 23 de junho de 2009.
Postado por Bibiana de Paula Friderichs às 10:50.
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Na semana passada perdemos um direito adquirido: a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista. Mas quem perdeu mais foi, mesmo, a democracia. Ensaiei alguns textos para colocar aqui, mas nenhum deles traduziu tão bem o meu sentimento, como o do prof. João Batista. Os escritos que seguem abaixo circularam nos últimos dias pela lista de discussão do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo...




Clayton. Ele é chargista do Jornal O POVO, de Fortaleza.
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Reflexões de um aprendiz de cozinheiro

Nesses 55 anos de estrada, confesso que vivi. Profissional e afetivamente. Mas que me perdoe Pablo Neruda, nunca aprendi a cozinhar. Sei apenas de cozinha de jornal. Aquele trivial simples, como fazer títulos e linhas de apoio, legenda e texto-legenda, chamada, macaca e outros adereços. Aprendi a botar tempero na matéria alheia, numa época em que o copidesque do Jornal do Brasil estava repleto de gurmês de fino trato. E eu, apenas um aprendiz de cozinheiro.
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Nesses 35 anos de janela, compreendi que a paisagem nos oferece várias lições e que nos cabe assimilá-las ou não. A universidade se apresenta como um balcão de ofertas. Uma oferta democrática porque permite a aprendizes conhecer, experimentar, refletir, enfim preparar receitas que, espera-se, algum dia serão destinadas à sociedade. No espaço da sala de aula pode-se sim ensinar técnicas jornalísticas. Se não acreditasse nisso, preferiria pedir demissão.
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Quando um poder supremo desmerece uma profissão desqualifica também sua formação. Ignora o longo tempo de dedicação de jovens que buscam nos bancos escolares ascensão social e a perspectiva de encontrar um lugar digno na sociedade, sem depender de favores, práticas de nepotismo ou arranjos partidários.
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Talvez seja essa possibilidade que incomode tanto. Silenciosamente, a universidade pode contribuir para dotar cidadãos das mais variadas origens sociais de uma reflexão crítica, sem qual ele não exerceria qualquer profissão de nível superior na sua plenitude.
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Como repórter, aprendi que a maioria dos jornalistas não costuma ser convidada para banquetes e aqueles que o são correm o risco de pagar uma conta alta na carreira. Certa vez, ao entrevistar um empresário durante um coquetel para o qual eu não fora convidado, arranquei-lhe algumas respostas enquanto ele degustava tranquilamente um camarão, sem ao menos ter a educação de oferecer ao entrevistador. Interpretei aquela atitude como um recado, que marcava a distinção do lugar social entre os dois personagens.
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Os filmes de Buñuel ensinam como as refeições representam um lugar de exclusão e inclusão na sociedade burguesa. A constatação nos ajuda a entender a metáfora do ministro onipotente. Novamente a demarcação entre os que sentam à mesa do banquete e os que preparam a comida. Sem diploma, e portanto sem os benefícios econômicos que dele advêm, o que se deseja é que fiquemos sempre condenados a preparar a comida alheia, especialmente a dos comensais de banquetes.
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Aos jovens cozinheiros, candidatos a chefes de cozinha, fica a advertência. Não confundam o lugar do jornalista com os dos representantes da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), principal articuladora do lobby que derrubou a obrigatoriedade do diploma. Ho Chi Minh 'cozinheiro da colonial Marinha francesa', nos mostrou que é possível um pequeno Davi de olhos puxados sair vitorioso na luta contra Golias. A nossa luta é a do feijão com arroz contra o supreme de frango.
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João Batista de Abreu
Jornalista com diploma

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só com diploma!

Segunda-feira, 30 de março de 2009.
Postado por Bibiana Friderichs às 11:18.


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OS SAPATOS



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Assistindo à TV ontem, durante o último jornal da noite, vi e ouvi o relato sobre o recente episódio de uma entrevista coletiva que Bush concedeu ao lado do primeiro ministro Nuri al-Maliki. Na ocasião, um jornalista, de origem iraquiana, jogou os sapatos na cabeça do presidente americano. Parece que para a cultura deste povo, este é um dos piores insultos que alguém pode receber.

No entanto, Bush, do alto da sua suposta superioridade, apenas comentou ironicamente:
“Não sei que causa defende. Não me senti ameaçado em nenhum momento. Não me irritou. Se querem dados, era um sapato número 10 (equivalente ao 42)".

Por cinco segundo, assistindo aquela notícia, eu quis propositalmente ignorar questões como: decoro, lei e ordem, diplomacia, ou mesmo os questionamentos a cerca da postura profissional do mencionado jornalista. Fiz isso porque me detive em pensar apenas na representatividade deste gesto e da reação esboçada do presidente. Foi então que lembrei imediatamente da reflexão que fez Baudrillard diante dos americanos sorridentes que encontrou durante sua visita aos Estados Unidos. Para ele o gesto aparentemente simpático, tinha no fundo outro significado:

"O sorriso da imunidade, o sorriso da publicidade: “Este país é bom. Nós somos os melhores”. É também o sorriso de Reagan: o auge da auto-satisfação de toda a nação americana (...). Sorria, e os outros lhe sorrirão. Sorria para mostrar como você é transparente e cândido. Sorria se não tiver nada para dizer. Acima de tudo, não esconda o fato de não ter nada para dizer nem sua total indiferença para com os outros. Deixe esse vazio, essa profunda indiferença brilhar espontaneamente em seu sorriso. Dê o seu vazio e a sua indiferença aos outros, e ilumine o seu rosto com o grau zero da alegria do prazer, sorria, sorria, sorria... os americanos podem não ter identidade,mas têm belíssimos dentes".

Mais adiante o autor ainda comentou que, embora os Estados Unidos sejam “um mundo completamente podre, com riqueza, poder, senilidade, indiferença, puritanismo e higiene metal, pobreza e desperdício, futilidade tecnológica e violência cega”, eles são o centro do mundo, o modelo para o qual estamos caminhando...

Infelizmente, guardadas certas generalizações, exageros e complexidades presentes no texto do Baudrillard, questionado por muito outros pensadores, neste caso, sobre este fragmento, já que para próprio autor diz tudo o que se pode fazer é jogar com pedaços, concordo com ele: em gênero, número e grau... O grau zero da minha pretensa inconsciência, porque as vezes não quero pensar que o palhaço somos nós, que este sorriso não passa de uma gargalhada disfarçada da nossa cara.
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Obrigada, caríssimo jornalista, sejam quais forem os teus motivos, sinto os meus representados pelo teu gesto... também queria poder insultar o Bush!

Que herói? Que bandido? E a mãe, vai bem?

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Semana passada, tarde da noite, estava eu, bem tranqüila, recolhida ao berço. Tv ligada, mas os olhos e os “ouvidos” num livro delicioso. Paula, de Isabel Allende. Ganhei de presente da Cilene (ela sempre acerta nos presentes).
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Viajava compenetrada nas paisagens literárias quando ouvi o nome da minha cidade no Jornal da Globo. Isso poderia não ser nada se eu morasse no Rio, São Paulo, ou qualquer outra capital do país, mas como moro em Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul, achei que deveria ser coisa muito importante... e era: era a comprovação de que definitivamente o mundo tinha virado de cabeça para baixo!
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Deu-se que o ladrão, ao roubar um carro, em plena Avenida Brasil (via principal do município), encontrou dentro do veículo um menino. O garotinho, que tinha cinco anos, foi deixado pelos pais enquanto dormia. Os pais? Ah, esses tinham ido tomar cerveja no bar da esquina... (& * # ~ @ + % ~). O ladrão, “cidadão consciente que é”, devolveu o carro imediatamente e depois ligou para a polícia. No telefone ele avisou: “E diz pro filho da puta do pai dele que se da próxima vez que eu pegar aquele auto e tiver o piá lá, eu vou matar ele”. Bom, depois da notícia não consegui mais ler, dormir então... No dia seguinte fiquei sabendo, pelos alunos, que a pauta foi parar até nos canais internacionais!
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O que me inquietou tanto? Primeiro pensei na metáfora do cachorro que tanto discutimos na época de faculdade. A frase célebre está no filme A Montanha dos sete abutres: “Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, aí sim isso é notícia”*. E, bingo! Podemos aplicá-la ao caso sem medo. No entanto dos meus problemas este é o menor: seria só mais um exemplo, dentre tantos, que eu vou usar na sala de aula.
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Mas o que me aborrece mesmo é a constatação transparente e irrevogável de que estamos nos tempos da fluidez, de que não temos mais os pés e nem as mãos no chão, de que vivemos como os astronautas destreinados em campos sem gravidade, sacolejando desordenadamente pra lá e pra cá, sacudindo os braços e as pernas deseperadamente na tentativa de controlar alguma coisa que foge do ordinário. De que não há mais certo, errado ou justo e de que se há, não faço a mínima idéia de quais coisas correspondem a qual conceito…
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Na manhã do outro dia, depois da nossa espantosa participação em cadeia nacional, abri a Zero Hora, na página policial. Foi sem querer, eu juro! Um nota, no canto da página, dizia: Brigadiano mata mulher….
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Raios!!! Sempre me disseram que a audiência precisa de heróis e vilões, como uma espécie de espelho, projeção, expressão ou sei lá o quê (isso tudo é muito teórico para o meu estado de indignação, tão prosaico)… então fico me perguntando, que tipo de referente somos nós, origem dessa imagem que se reproduziu diante do vidro midiático? Dessa imagem consumida e, portanto, aprovada.
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Então foi a minha vez de fazer greve de silêncio, jejum ou qualquer outra esquisitice do gênero.
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*A frase foi feita em 1877 pelo jornalista americano John B. Bogart. Ah, os americanos, desgraça de jornalismo importado!!!!!!

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no meio das coisas

Blá, bla. blá, blá, blá...
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A vida está maravilhosa, mas receio que esteja me engolindo aos poucos... risos... O fato é que as minhas listas de tarefas estão cada vez maiores e eu não dou mais conta de nada: nem do que preciso, nem do que quero fazer. Será que é a bem (ou mal) dita pós-modernidade? Começo a desconfiar que ela existe e não importa, definitivamente, o nome que tenha (ou que dão a ela)!
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Blá, lá. blá, blá, blá....

Bom, essa introdução toda é só pra justificar porque RAIOS não tenho tempo (ou não arranjo tempo) para escrever sobre um tema que me incomoda tanto e que merecia minha atenção: a Lei de Imprensa, temporariamente suspensa (dá pra acreditar?).

Ainda vou ficar devendo a reflexão, mas por hora deixo o editorial da Folha de São Paulo, do dia 30/03/2008, para leitura. Concordo com ele e mais: fico imensamente contente por descobrir que alguns empresários podem mudar de opinião e abrir espaço para isso em seus periódicos. (Se não mudam de opinião, pelo menos publicam algumas vozes que divergem da opinião consensual... já um começo.)

Por isso, hoje acredito que o mundo tem jeito. Amanhã? Veremos...
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Lei de Imprensa

STF deveria manter o núcleo vivo da lei de 67, enquanto Congresso acelera trâmite de novo estatuto para a imprensa A SUSPENSÃO, em caráter provisório, de 20 artigos da Lei de Imprensa e o advento de métodos orquestrados para cercear a liberdade de expressão recolocaram na ordem do dia a necessidade de formular uma legislação moderna e democrática para a imprensa. Diante do risco de que se crie um indesejado vácuo jurídico, o trâmite de uma nova lei deveria ser acelerado. Uma respeitável corrente de opinião advoga a simples extinção da Lei de Imprensa, de 1967, sem que nenhuma legislação seja colocada no lugar. Argumenta que toda tentativa de regular a atividade jornalística acabará criando controle excessivo sobre o direito à informação, pilar da democracia.

De fato, parlamentares e governantes constituem alvo preferencial do escrutínio da mídia independente - cuja principal função é fiscalizar o poder. Se o interesse dos poderosos, de controlar a informação em proveito próprio, imperasse no espaço público, qualquer tentativa de legislar sobre o tema seria temerária. No entanto, preceitos constitucionais, decisões judiciais reiteradas, décadas de prática de jornalismo livre e valores democráticos já enraizados na opinião pública ajudam a conter, sem apagar, o interesse egoísta de quem detém poder.

A Lei de Imprensa deixou de ser a principal ameaça à liberdade de expressão no Brasil. Criada por uma ditadura, seu objetivo central era controlar a informação pela coação legal, imposta a veículos e profissionais. Nem todos os 33 artigos do código de 1967, entretanto, correspondiam a pressupostos de tutela.

Os dispositivos mais autoritários da Lei de Imprensa passaram a ser ignorados nos tribunais a partir da redemocratização de 1985. O que restou do diploma hoje propicia alguma segurança jurídica a cidadãos, empresas e jornalistas, sem ameaçar direitos fundamentais.

Já nos códigos cuja aplicação seria alargada no caso da abolição da Lei de Imprensa, há mais incerteza. Em todas as democracias modernas existe um conflito clássico entre dois valores fundamentais: o direito à informação, de um lado, e os direitos ligados à personalidade, do outro. As constituições resolveram o dilema conferindo primazia ao primeiro termo, em nome do interesse público. Como contrapartida, criaram mecanismos para reparar excessos cometidos no livre exercício da imprensa.

Isolados, os parâmetros dos códigos Civil e Penal são impróprios quando invocados para avaliar a atividade jornalística. Tendem a atribuir valor absoluto à garantia da honra, da intimidade e da privacidade das pessoas.

A Carta de 1988 diz que não haverá censura prévia, embora artigos do Código Civil de 2002 a permitam. Daí a necessidade de uma lei de imprensa, que venha restaurar a hierarquia constitucional: juízes não podem praticar atos de censura prévia, ainda que seja no intuito de defender os valores da personalidade.

Sem lei de imprensa, só grandes empresas teriam boas condições de proteger-se da má aplicação da lei comum, levando processos até as mais altas instâncias do Judiciário. Ficariam mais expostos ao jogo bruto do poder, e a decisões abusivas de magistrados, os veículos menores e as iniciativas individuais. A fiscalização de tiranetes e oligarcas em regiões menos desenvolvidas do país ficaria mais vulnerável. Tampouco haveria o devido amparo legal à efervescente "imprensa cidadã", que dissemina blogs pela internet -inovações que merecem ter proteção especial da lei de imprensa quando revestirem caráter jornalístico.Para evitar riscos desse tipo, o Supremo Tribunal Federal deveria manter de pé o núcleo vivo da Lei de Imprensa no julgamento que fará do diploma nos próximos meses. Seria uma atitude desejável de prudência, embora insuficiente diante das ameaças que surgem por outras vias.

Tornou-se inadiável instituir um novo marco regulatório, amplo e atualizado, para a imprensa. Deve-se buscar um estatuto intransigente, ao vetar as formas insidiosas de censura prévia; sem compromisso com o erro, ao acelerar o trâmite do direito de resposta e dos processos de quem se sinta ofendido por publicações; moderno, ao proteger as inovações do jornalismo na internet, prevenir o abuso nas reparações em dinheiro e inibir o uso orquestrado da Justiça para assediar empresas e jornalistas, a chamada litigância de má-fé. O interesse público de conhecer a verdade, de ter acesso à diversidade de opiniões e de questionar o poder precisa da proteção de uma nova lei de imprensa. O Congresso não deveria furtar-se à tarefa de confeccioná-la.

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Brinquedo de jornalista

Pessoal, descobri um briquedo novo para toda criança jornalista que, por pertencer a "espécie: ávida por notícias" vai achar SUPIMPA. Eu, pelo menos, me diverti!
No link abaixo você encontra um mapa com a primeira página dos principais jornais do mundo (o que inclui algumas publicações de cidades do interior). Este mapa está preenchido por pontinhos laranjas. Cada pontinho é uma edição. Basta clicar em cima dele que a primeira página ampliada do jornal abre ao lado do mapa. Logo acima você também encontra o link para o site do periódico. No dia seguinte todas as imagens são atualizadas. Divirta-se!

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As manchetes, que beleza!


Depois de quase cinco dias soterrada num “universo paralelo” de orientações, monografias, bancas, trabalhos e notas de final de semestre, hoje finalmente consegui dar uma espiada na versão online dos jornais de costume. Foi uma olhadela, um passar de olhos, mas com tempo suficiente para me deixar intrigada: onde vamos parar? Até parece que estou fazendo coro ao texto do post anterior, quando digo que não sou pessimista, mas não foi intencional, “juro”.

Bom, sem muitos rodeios, o fato é que a minha leitura começou assim:

Mais violência nos subúrbios de Paris (ZH)
Tráfico faz homicídios crescerem 61% na Capital (ZH)
Oposição promete parar dois terços da Bolívia (Estadão)
(Governadores de seis províncias lideram greve; Congresso impede opositores de integrar votação de leis)

Intercalada por uma seqüência de fotos, cujas legendas estão abaixo:

Policial palestino tenta conter manifestantes durante velório de homem morto ontem pela polícia palestina em Hebron, na Cisjordânia (Folha)
Soldados observam protesto de pequeno grupo de taxistas contra alta do preço do combustível em Beirute, no Líbano (Folha)



E encerra com:
Reação e morte
Vítima aproveita distração de assaltante e o mata a tiros
(ON)


Não sendo suficiente, diante das notícias ululantes (gosto dessa palavra ... hehehe) que sinalizam o final do ano e o (des) controle que vem se instalando nas mais distintas esferas da sociedade, e em todas ao mesmo tempo - o que resta ao mundo da vida? -, pasmem, encontro um manchete e uma foto legendada, ambas surreais (curto os surrealistas):


A primeira é uma imagem do Lula ao lado do Duque de Luxembrugo:
'Quero ver todo mundo torcendo para o Corinthians hoje', diz Lula, antes de encontro com duque de Luxemburgo’ (Estadão)


A segunda, uma notícia, mais inacreditável que a própria manchete!
Dalai-lama propõe referendo sobre sua reencarnação (Estadão)

Tudo isso com o seguinte pano de fundo:


CCJ aprova envio de parecer que recomenda cassação do mandato de Renan ao plenário (Folha)

Esta última, só foi publicada para testar a minha paciência diante do absurdo promovido pela “Casa”, que é soberana, como disse Tarso Genro na ocasião em que Renan foi absolvido, tempos atrás.
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Engraçado, e eu que sempre achei que soberano mesmo era o povo...

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É, o mundo está de cabeça para baixo, os jornais não me convencem do contrário, mas o problema maior é que, no meio disso tudo, nem sei, se de fato, sei para que serve o jornalismo. Se alguém quiser arriscar um palpite será bem vindo, afinal tenho que propor alguns planos de aula para o próximo semestre. Supeito que minhas férias serão de muitas leituras, revisitando o que já foi dito, procurando o novo...

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    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

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quem é a garota da vitrine?

Minha foto
Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

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pelo caminho...

pelo caminho...
lendo... só lendo e imaginando uma história da nossa suposta história...

O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

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o que são scriptografias e outras escrivinhações?

O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



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