Que herói? Que bandido? E a mãe, vai bem?
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Semana passada, tarde da noite, estava eu, bem tranqüila, recolhida ao berço. Tv ligada, mas os olhos e os “ouvidos” num livro delicioso. Paula, de Isabel Allende. Ganhei de presente da Cilene (ela sempre acerta nos presentes).
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Viajava compenetrada nas paisagens literárias quando ouvi o nome da minha cidade no Jornal da Globo. Isso poderia não ser nada se eu morasse no Rio, São Paulo, ou qualquer outra capital do país, mas como moro em Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul, achei que deveria ser coisa muito importante... e era: era a comprovação de que definitivamente o mundo tinha virado de cabeça para baixo!
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Deu-se que o ladrão, ao roubar um carro, em plena Avenida Brasil (via principal do município), encontrou dentro do veículo um menino. O garotinho, que tinha cinco anos, foi deixado pelos pais enquanto dormia. Os pais? Ah, esses tinham ido tomar cerveja no bar da esquina... (& * # ~ @ + % ~). O ladrão, “cidadão consciente que é”, devolveu o carro imediatamente e depois ligou para a polícia. No telefone ele avisou: “E diz pro filho da puta do pai dele que se da próxima vez que eu pegar aquele auto e tiver o piá lá, eu vou matar ele”. Bom, depois da notícia não consegui mais ler, dormir então... No dia seguinte fiquei sabendo, pelos alunos, que a pauta foi parar até nos canais internacionais!
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O que me inquietou tanto? Primeiro pensei na metáfora do cachorro que tanto discutimos na época de faculdade. A frase célebre está no filme A Montanha dos sete abutres: “Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, aí sim isso é notícia”*. E, bingo! Podemos aplicá-la ao caso sem medo. No entanto dos meus problemas este é o menor: seria só mais um exemplo, dentre tantos, que eu vou usar na sala de aula.
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Mas o que me aborrece mesmo é a constatação transparente e irrevogável de que estamos nos tempos da fluidez, de que não temos mais os pés e nem as mãos no chão, de que vivemos como os astronautas destreinados em campos sem gravidade, sacolejando desordenadamente pra lá e pra cá, sacudindo os braços e as pernas deseperadamente na tentativa de controlar alguma coisa que foge do ordinário. De que não há mais certo, errado ou justo e de que se há, não faço a mínima idéia de quais coisas correspondem a qual conceito…
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Na manhã do outro dia, depois da nossa espantosa participação em cadeia nacional, abri a Zero Hora, na página policial. Foi sem querer, eu juro! Um nota, no canto da página, dizia: Brigadiano mata mulher….
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Raios!!! Sempre me disseram que a audiência precisa de heróis e vilões, como uma espécie de espelho, projeção, expressão ou sei lá o quê (isso tudo é muito teórico para o meu estado de indignação, tão prosaico)… então fico me perguntando, que tipo de referente somos nós, origem dessa imagem que se reproduziu diante do vidro midiático? Dessa imagem consumida e, portanto, aprovada.
M
Então foi a minha vez de fazer greve de silêncio, jejum ou qualquer outra esquisitice do gênero.
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*A frase foi feita em 1877 pelo jornalista americano John B. Bogart. Ah, os americanos, desgraça de jornalismo importado!!!!!!
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Viajava compenetrada nas paisagens literárias quando ouvi o nome da minha cidade no Jornal da Globo. Isso poderia não ser nada se eu morasse no Rio, São Paulo, ou qualquer outra capital do país, mas como moro em Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul, achei que deveria ser coisa muito importante... e era: era a comprovação de que definitivamente o mundo tinha virado de cabeça para baixo!
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Deu-se que o ladrão, ao roubar um carro, em plena Avenida Brasil (via principal do município), encontrou dentro do veículo um menino. O garotinho, que tinha cinco anos, foi deixado pelos pais enquanto dormia. Os pais? Ah, esses tinham ido tomar cerveja no bar da esquina... (& * # ~ @ + % ~). O ladrão, “cidadão consciente que é”, devolveu o carro imediatamente e depois ligou para a polícia. No telefone ele avisou: “E diz pro filho da puta do pai dele que se da próxima vez que eu pegar aquele auto e tiver o piá lá, eu vou matar ele”. Bom, depois da notícia não consegui mais ler, dormir então... No dia seguinte fiquei sabendo, pelos alunos, que a pauta foi parar até nos canais internacionais!
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O que me inquietou tanto? Primeiro pensei na metáfora do cachorro que tanto discutimos na época de faculdade. A frase célebre está no filme A Montanha dos sete abutres: “Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, aí sim isso é notícia”*. E, bingo! Podemos aplicá-la ao caso sem medo. No entanto dos meus problemas este é o menor: seria só mais um exemplo, dentre tantos, que eu vou usar na sala de aula.
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Mas o que me aborrece mesmo é a constatação transparente e irrevogável de que estamos nos tempos da fluidez, de que não temos mais os pés e nem as mãos no chão, de que vivemos como os astronautas destreinados em campos sem gravidade, sacolejando desordenadamente pra lá e pra cá, sacudindo os braços e as pernas deseperadamente na tentativa de controlar alguma coisa que foge do ordinário. De que não há mais certo, errado ou justo e de que se há, não faço a mínima idéia de quais coisas correspondem a qual conceito…
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Na manhã do outro dia, depois da nossa espantosa participação em cadeia nacional, abri a Zero Hora, na página policial. Foi sem querer, eu juro! Um nota, no canto da página, dizia: Brigadiano mata mulher….
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Raios!!! Sempre me disseram que a audiência precisa de heróis e vilões, como uma espécie de espelho, projeção, expressão ou sei lá o quê (isso tudo é muito teórico para o meu estado de indignação, tão prosaico)… então fico me perguntando, que tipo de referente somos nós, origem dessa imagem que se reproduziu diante do vidro midiático? Dessa imagem consumida e, portanto, aprovada.
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Então foi a minha vez de fazer greve de silêncio, jejum ou qualquer outra esquisitice do gênero.
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*A frase foi feita em 1877 pelo jornalista americano John B. Bogart. Ah, os americanos, desgraça de jornalismo importado!!!!!!
1 comentários:
Os referenciais já eram, Bibiana, já eram. E a coisa toda só vai piorar. Jesus está voltando mesmo!
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