Diálogo XII - com os professores

Há cerca de duas semanas, fui com meu filho de 04 anos numa roda de samba, organizada pelo Grupo Ritornelo de Teatro. Lá, para minha surpresa, encontrei a professora Djanira. Surpresa, porque ela foi minha professora na 6ª, 7ª e 8ª série, há quase 30 anos, e a vi poucas vezes depois disso. Mas ela estava lá, com toda a sua força e sua negritude, e nos presenteou com sua voz. 

Para mim foi uma oportunidade única, bem a tempo. Quando a vi, tive de me aproximar e dizer, rapidamente: "- oi professora, que bom lhe ver, fui sua aluna no IE". Ela me olhou, sorriu e disse: - eu lembro.

Não sei exatamente, se ela lembrou mesmo ou não, mas não importa. Djanira foi professora de muita gente, e toda essa gente teve a oportunidade de aprender com ela, aprender uma paixão pela vida, a força da natureza de quem somos, aprender a olhar para dentro, enxergar o nosso potencial.

Para uma menina bugra do interior, filha de professores, em escola particular, muito estudiosa e acuada diante do abismo da diferença social, financeira e cultural que havia entre ela e os colegas, diante do bullying naturalizado, só a presença e o brilho dessa professora já era suficiente. Mas Djanira foi além: ela me incentivou a entrar para o coro da escola, a fazer teatro, me preparou para provas de poesia e oratória da Olimpíada Metodista, e esteve presente para conversas permanentes. Fica sempre numa sala ótima, no miolo do "rendondão".

Foi o teatro que me ajudou a pagar a minha faculdade, anos depois. Hoje sou Diretora de uma Faculdade de Artes e Comunicação. Tenho a plena consciência do papel indelével dos professores na minha formação: da professora Leocí, da primeira série; da amada professora da minha terceira série, uma senhora de óculos baixos e voz amorosa; da professora Leonir, diretora da minha escola primária, São João, que me recebia compreensivamente em sua sala, inúmeras vezes; da professora Tania Maria Von Meusel (Escola de Ensino Fundamental St. Patrick), minha professora no Magistério, que fez meus olhos brilharem falando de aprendizagem; das professoras Cilene Maria Potrich e Tania Mariza Kuchenbecker Rosing, que nunca me deram aula em sala de aula, mas me ensinaram muito, de formas que eu nem consigo mensurar (sem dúvida, mulheres a frente do seu tempo); do professor César Augusto Azevedo dos Santos, meu Amado Mestre, que guiou meus passos na pesquisa e na docência, que mostrou que aprendemos juntos; do professor Benami Bacaltchuk, que sempre confrontou carinhosamente, mas incansavelmente, as minhas certezas, porque é fazendo perguntas que movemos o mundo (e ele sabe disso); e de muitos professores nessa trajetória, que não mencionei aqui. Sobretudo, dos meus pais, Dolores Barbosa de Paula e Vlademir Alexandre Menegaz, que além de serem meus pais e a força da minha existência, são de profissão, professores, professores que fizeram a diferença na vida de muita, mas muita gente, professores de quem tenho o mais profundo orgulho.

Além da história particular que tenho com a professora Djanira, naquela noite de samba, e hoje, escrevendo este texto, ela também foi/é, para mim, um portal. Um portal através do qual enxergo, mais uma vez, todos esses professores, e, mais do que isso, enxergo e tangibilizo o inextinguível papel dos professores na vida das pessoas, como faróis numa noite escura, em meio ao desconhecido, que é como todo futuro (e as vezes o próprio presente) pode parecer.

Djanira foi uma professora que fez a diferença na minha vida, assim como provavelmente fez a diferença na vida de muitas, muitas outras pessoas, na sala de aula ou fora dela. Agora ela se foi. Mas sua partida não deixa um vazio, deixa um legado. Obrigada, professora.


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1 comentários:

Gisele Cristina Voss disse...

Em um retorno ao blog, vejo sua postagem. E me rememoro como você, que assim como a Cilene que citas no texto, não foi minha professora em sala de aula, mas de tanto que não caberia em conteúdos programáticos!
Saudades, e que belo blog lindão! Tenho que me atualizar contigo rsrs

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    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

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Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

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O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

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O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



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