meus... nossos...



Tudo era muito simples e estava decorado com panos de chita. O silencio rareava, e quando dei por mim a alegria entrou palco à dentro acordando todos os sentidos. Ela veio montada numa burrinha e estava vestida de menina flor. Foi uma festa! Comecei a chover. Depois descobri que a alegria também atendia pelo nome de Isabel.

Isabel apareceu misturada aos brincantes. Juntos eles me contaram histórias de pertencimento, me puseram a cantar, a sorrir, a dançar. E como se estivessem desvendando um mistério – tão certo, tão seguro – me trouxeram alimento, me devolveram a identidade. Foi um alívio.

Deixei um tanto da bagagem na cadeira do anfiteatro, esqueci os comprometimentos com a imagem de mulher pós-moderna e tecnológica (mesmo que eles continuassem existindo), desliguei-me dos nós “intergalácticos”, ensurdeci aos barulhos da cidade movimentada, recuperei parte das minhas referências perdidas e (re) signifiquei intimamente o papel da arte popular.

À margem das teorias, ou no mínimo despreocupada em atendê-las ou negá-las, foi ali, diante da alegria dançante, do palhaço Aleluia, do contador de histórias e do mestre tocador que apanhei o sentido de cultura, num modo contínuo, ao mesmo tempo invariável e mutante. É a partir desta cultura que nos constituímos e reconhecemos como sujeitos históricos. Construídos em e pelas partes. Pedaços das histórias e dos outros outros do nosso passado, daqueles que chegaram e pedaços daqueles que partiram. Também somos pedaços do presente, do novo que nos chega, sujeitos cuja caminhada atravessa e é revelada por todos os discursos que produzimos e consumimos.

Então alguém (leitor) deve estar pensando, mas isso é o óbvio, inclusive já foi dito e não está à margem das teorias. Bom, para estes esclareço: uma coisa é o óbvio que tu lê nos livros e tenta encontrar no meio de uma porção de racionalidade, outra, completamente mais complexa é aquele óbvio, tão constantemente estudado e visitado nos livros, que, de repente, num certo dia, tu consegue perceber com os cinco sentidos, e aí mal consegue explicar.


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UM MEME!

"Não importa, sinto muito, aqui estamos diante da epifania do intolerável, não valem as velhas leis com suas circunstâncias atenuantes: você também será condenado ao garrote".


ECO, U. Cinco escritos morais. Rio de Janeiro: Record, 1998.

Passado pelo Reges:

1. Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. Abra-o na página 161 (se não tiver página 161, pegue a mais próxima;
3. Procure a 5ª frase completa;
4. Poste essa frase em seu blog;
5. Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6. Coloque sua frase nos comentários do blog (pra que todos vejam…)
7. Repasse para outros 5 blogs.

Em relação ao ponto 7: Verônica, Pablo, Robes, Alecs, e quem mais quiser.

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Diálogos II

Com minha orientanda, a Laura, que escolheu falar sobre o consumo de produtos piratas no seu trabalho de conclusão!

Tira encontrada no blog: Depósito do Calvin

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Diálogos I

Com os pensamentos e sobressaltos do meu amigo Pablo, o Jardineiro, na última postagem de Resenhas de Banheiro, dia 16/10/2007.

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A COISA É PÚBLICA: DIGA NÃO!



Sexta-feira, feriado. Tarde, chuva. Na frente do computador, tentando atualizar meu repertório de notícias (coisa quase impossível, pois a dinâmica do jornalismo é feroz) me pego pensando no caso TVE.

Será que é mania do povo brasileiro – e que fique bem claro, estou falando dos políticos e dos não políticos – ou é um erro de conceito – mal elaborado e mal difundido? O fato é que aqui, no Brasil, todo mundo confunde escandalosamente o público com o estatal. Por causa dessas e de outras (que nem valem comentários) o NOSSO canal de TV está sujeito a uma “tal” de privatização.

Diante dos textos que encontrei sobre o assunto (blogs, site do FNDC, governo do estado, observatório da imprensa) só me resta concluir que talvez a governadora tenha esquecido, mas antes de ser um negócio, o acesso a informação é um direito civil, comum às sociedade democráticas. Portanto, todos os processos de gestão dos espaços midiáticos através dos quais a informação é distribuída, dizem respeito diretamente aos interesses dos sujeitos imbricados nessas sociedades.

Ainda tem mais: é dever do Estado (federal ou regional) garantir a qualidade do conteúdo veiculado pelos meios de comunicação, e nele, garantir lugar para pluralidade de vozes representativas das diferentes culturas presentes no seu território. Trata-se da administração e da concessão de canais de rádio e televisão, que tem de atender as nossas expectativas e as diretrizes de uma comunicação de qualidade e responsabilidade social.

Nesse sentido, Otondo (1), lembra que se no Brasil não existe, juridicamente, a figura da televisão pública, ela é substituída por outra: a educativa e cultural, como é o caso da TVE, ligada a Fundação Piratini.

Esta Fundação (que envolve também a rádio FM Cultura) é uma instituição PÚBLICA de direto privado, cuja concessão de televisão foi outorgada, em 21 de julho de 1968, pelo Governo Federal, para ser utilizada com FINS EDUCATIVOS. Hoje, 39 anos depois, essas emissoras de rádio e TV estão sucateadas, carentes de recursos humanos, materiais, e a mercê de um processo de privatização, uma vez que o governo estadual registrou a intenção de transformar a Fundação Piratini em uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), descaracterizando-a como uma TV/rádio pública. A Lei 9.790/1999 – também chamada de “a nova lei do terceiro setor”, que criou as OSCIPs, expõem claramente esse caráter, pois permite a parceria entre uma empresa privada com órgãos do Estado ou uma fundação pública, e passa para ela a gestão dos interesses dos canais.

Ou seja, a TVE que hoje está nas mãos do governo estadual – como concessões outorgadas a todos os outros governos estaduais Brasil à fora, não para veicular informações do seu interesse, mas de interesse educativo cultural, leia-se público – corre o risco de parar nas mãos de uma empresa privada, leia-se lucrativa, e virar um veículo de interesses comerciais. Queremos isso?

Os funcionários da TVE, buscando alternativas para evitar esse processo de desapropriação pública, criaram um abaixo-assinado que será entregue a Assembléia Legislativa. Clique AQUI se você quiser participar e assinar a petição também:


(1) OTONDO, Teresa Montero. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (Org.). Televisão pública: Do consumidor ao cidadão. São Paulo: [s.ed.], 2002.

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O POVO FURA MONET!

MAU SINAL! MAU SINAL!
Quando 04 jovens invadem o Museu DOrsay, em Paris, como aconteceu ontem, correndo uma série de riscos, só para fazer um rasgão de 10cm num quadro de Claude Monet, e chamar a atenção, é porque as coisas não estão nada bem. Digo isso porque saboreio com gosto as reflexões sobre a contemporaneidade e o tal mundo pós-moderno (se é que isso existe), e quando me deparo com uma notícias dessas entendo, quase que instantaneamente, o que os autores, não por coincidência, franceses, querem dizer com o esvaziamento do sujeito.

Obs.:
1. Só me pergunto: se os filhos do berço da civilização anunciam, de um modo aparentemente tão nonsense e desesperado, sua inquietude, o que resta para nós, terceiro mundistas? Tô começando a achar que arrastão é bem normal...

2. O quadro se chama a Ponte de Argentuil, foi pintado em 1874 tem 60,5com por 80cm.



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Ousemos ser preguiçosos*

* este é um velho texto, publicado aqui em homenagem a uma velha amizade!


Esse é o título da entrevista concedida por Roland Barthes em 1979 para o Lê Monde-Dimanche (um periódico Francês). Barthes foi um pensador, ou, como ele mesmo preferia dizer, um ensaísta. Ao longo de toda sua obra se debruçou sobre as questões da produção do sentido, de modo particular na literatura, mas, de modo geral, na variedade de textos que circulavam pela cena social francesa, na segunda metade do século passado. Tanto em nível verbal, como não verbal.

Meu namoro platônico por seu trabalho é antigo, mas o contato bem recente: há dois anos, quando decidi fazer leituras semiológicas de imagens fotográficas no mestrado. Tenho lido muitos de seus livros, e em meio a reflexões, por ora, bem difíceis, confesso, encontrei essa entrevista, publicada no livro Grão da Voz (Edições 70). Ela fala sobre o DIREITO A PREGUIÇA. Fiquei espantada e, ao mesmo tempo, exultante.

Essa é uma característica de Barthes, acordar a pluralidade dos sentidos, adormecer significações estereotipadas, transgredir o discurso corrente. Além de estudar o processo de produção dos sentidos, a estrutura das narrativas, do discurso, da linguagem, ele também a perverte em seus ensaios. Falar em amor, em discurso amoroso e em sujeito apaixonado, em plena década de 70, quando estamos ainda sob os resquícios da modernidade foi uma transgressão; exigir o direito a preguiça então, sendo ele um intelectual sério e respeitado, trouxe um certo desconforto aos acadêmicos, mas também a burguesia empenhada cotidianamente na missão de produzir, produzir, produzir.


Mas vamos à preguiça! Barthes dizia que o primeiro erro que cometemos é negar a reserva que fazemos ao lugar da preguiça em nossas vidas. Estamos sempre nos colocando em situação de lutar para fazer as coisas. Diz ele: “Quando não as faço (as tarefas), ou pelo menos durante o tempo em que não as faço – pois acabo geralmente por às fazer – trata-se de uma preguiça que se me impõe, em vez de ser eu a escolhê-la e me impor a ela. É evidente que essa preguiça envergonhada não assume a forma do NÃO FAZER NADA, que seria a forma gloriosa da preguiça”.


Barthes acreditava que a sociedade ocidental, caracterizada pela preguiça envergonhada, sofre da falta de poder e liberdade para “não fazer nada”. Como se deixar-se preguiçoso não fosse conveniente, um crime! “Já reparou que se fala sempre do direito ao lazer, mas nunca do direito a preguiça? Pergunto-me, aliás, se entre nós, ocidentais e modernos, existirá o não fazer nada". E conclui dizendo que mesmo quando as pessoas ficam livres, nunca ficam sem fazer nada. Conversar, caminhar, ler, dormir, não é exercitar a preguiça.
Para ele a verdadeira preguiça seria, no fundo, uma preguiça do “não decidir”, do não ter de dizer “eu”, do quase “não estar ali”. Para melhor explicar, Barthes lembra de um ensinamento Tao sobre o assunto, que caracteriza esse estado como o “não mexer nada”, “não determinar nada”.
Claro que há tantas preguiças quantas são as pessoas e suas vidas, talvez tantos quantos forem os diferentes grupos da cena social. Entretanto, nas sociedades ocidentais, o domingo foi institucionalizado como o dia da preguiça e, por causa disso, acabamos caindo no problema da preguiça ritualizada. O rito precede o desejo do sujeito de, efetivamente, não fazer nada. E essa obrigação de domingo ao qual nos submetemos culturalmente, torna-se quase um suplício. Para o querido Barthes, esse suplício, se chama TÉDIO. Temos aí a explicação para o estereótipo de que domingo, seria, supostamente, um dia chato.


Schopenhauer já disse: O tédio tem a sua representação social no domingo.


Talvez, a forma da preguiça pós-moderna esteja alterada e não corresponda a utopia descrita por Roland Barthes, mas bem que eu queria “um dia branco, um dia silencioso em que pudesse ser preguiçosa, quer dizer, livre”.
Obs.:
1. Os trechos em negrito foram retirados da fala do autor.
2. Eis aqui a referência do livro: ROLAND, B. O grão da voz. Lisboa: Edições 70, 1981.

EXTRA! EXTRA!


No dia 05 de outubro vencem concessões de televisão em todo o Brasil, entre elas emissoras próprias e afiliadas da Rede Globo, Bandeirantes, Record e SBT.

Link do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações.
P.S.: Obrigada menino Dóro, pela preciosa infomação!

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d.i.g.i.t.a.l




Vamos ter de engolir um modelo de RÁDIO DIGITAL?


Está claro, para mim, que a grande maioria da população brasileira não tem a mínima idéia do que é, e mesmo, do que representa a chegada da TV digital ao país. Basta observar “a frota de formigas cortadeiras” que atacam os estudantes de comunicação – público supostamente interessado – quando falo disso em sala de aula. Apesar da insistência com que venho tratando do tema em nossas discussões, é difícil para eles, e para mim também, imaginar como as proclamadas mudanças e a dita interatividade podem mudar as práticas de comunicação até então consolidadas no contexto brasileiro.

Agora, se para os futuros jornalistas já é difícil vislumbrar uma nova apropriação do formato televisão, imagine como esse processo está se concretizando junto ao telespectador comum, que tem um número restrito de informações e a maioria delas desencontradas. O resultado é que os discursos que circulam entre eles, de um modo geral, trabalham com a limitada noção de que a única mudança advinda desta modalidade de transporte de informações é o aumento da qualidade de som e imagem. Como se isso fosse realmente o mais importante.

Entretanto, a pior notícia ainda está por vir: apesar do cenário de pouca informação e da ignorância a que o público geral foi submetido (mesmo sem perceber), os acordos e a escolha do padrão que vai entrar em vigor no Brasil, até 2013, já foram feitos (sem nem sequer uma consulta popular, uma campanha de esclarecimento. Nada! Nada!). Hoje, no que diz respeito a TV Digital, somos japoneses, você sabia? O primeiro round terminou.


Agora passamos a segunda etapa, que para mim interessa sobremaneira, pois se trata do RÁDIO DIGITAL. O processo iniciou há dois anos e desde lá observamos a preferência do governo federal pelo modelo IBOC (in-band on-channel), norte-americano. Alguns testes já foram feitos e a perspectiva é que o acordo seja firmado por volta de março do ano que vem. O problema é que tais testes estão “sendo realizados pelas emissoras autorizadas sem a utilização de uma metodologia ou padronização de critérios e procedimentos compatíveis com as condições brasileiras”, revelando uma série de inadequações entre o modelo escolhido e a nossa realidade. Preocupados com essa situação um grupo de 72 professores e pesquisadores de rádio no Brasil se reuniu, em agosto deste ano, e elaborou uma carta pública, explicitando sua opinião. Veja o documento, na íntegra, aqui.

Será que seremos ouvidos? As primeiras repercussões incluem o agendamento de uma reunião com o Ministério das Comunicações. Hélio Costa em discurso feito no estado de Minas Gerais disse que antes de escrever este documento deveríamos tê-lo procurado (risos) Como se, de fato, ele fosse nos receber antes disso.

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    "ao reescrever o que dissemos, protegemo-nos, vigiamo-nos, riscamos as nossas parvoíces, as nossas suficiências (ou insuficiências), as hesitações, as ignorâncias, as complacências; [...] a palavra é perigosa porque é imediata e não volta atrás; já a scriptação tem tempo à sua frente, tem esse tempo próprio que é necessário para a língua dar sete voltas na boca; ao escrever o que dissemos perdemos (ou guardamos) tudo o que separa a histeria da paranóia" (BARTHES, 1981, p.10).

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quem é a garota da vitrine?

Minha foto
Sou formada em Radialismo e Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo e desde 2004 atuo como professora dos cursos de Comunicação Social na mesma instituição. Ainda na UPF, fiz especialização em Leitura e Animação Cultural, e recentemente concluí o doutorado pela PUCRS. Sempre trabalhei com o universo radiofônico, pelo qual sou apaixonada. Gosto particularmente das suas aproximações com a arte. Minhas últimas descobertas de pesquisa rondam em torno da produção de sentido (em nível verbal e não-verbal) sob a perspectiva semiológica.

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pelo caminho...

pelo caminho...
lendo... só lendo e imaginando uma história da nossa suposta história...

O museu é virar a gente de ponta cabeça. Tem versão digital ao clicar na imagem.

da era do pós-humano.

de Brenda Rickman Vantrease, sobre os poderes que se interdizem desde o início dos tempos.

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o que são scriptografias e outras escrivinhações?

O título deste blog foi inspirado nas observações feitas por Roland Barthes a cerca do processo de produção e significação dos textos que circulam pela prática social. Ele fala em scriptação, escrita, escritor e escrevente. No entanto, o nome scriptografias e outras escrivinhações, não passa de uma "licença" poética, por assim dizer, com o objetivo de nominar um espaço de livre expressão, em formatos e temas que fazem parte do meu cotidiano, assim como do cotidiano de quem por aqui passar.
    hola !



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