Maria Feia, o signo e o casamento
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Semana passada, no projeto “Teatro, música e psicologia”, na Universidade de Passo Fundo, assisti a uma sketch teatral chamada “O casamento de Maria Feia”. A montagem foi baseada numa peça de Rutinaldo Miranda Batista Júnior, inúmeras vezes representada por diferentes grupos teatrais pelo Brasil à fora. Depois da intervenção do grupo D.I.A, alguns debatedores presentes no evento se propuseram a estabelecer sobre a encenação o tal olhar transdisciplinar que professores, pesquisadores e artistas, tanto buscam. Não pude participar da discussão até o fim; mas ocasiões assim sempre me deixam inquieta, em especial quando se trata da arte.
Como já disse outras vezes, para mim, ela é um espaço/discurso de transcendência. Atravessados pela arte lemos o cotidiano naquilo que ele tem de mais real e ao mesmo tempo mais onírico. E, diante deste mundo indiciado, que não é mais do que expressão da realidade social por nós subsidiada, podemos reconhecer ou questionar o nosso próprio mundo. Por isso costumo dizer que o discurso da arte deve ser também um discurso de ruptura, que subverte os estereótipos cultivados pelos falares do poder, ordinariamente reproduzidos, porque são, e para serem, dominantes.
Esta crença advém do reconhecimento de que todo discurso pode margear a linguagem preexistente, escorregar por suas fendas e nos acordar de um torpor de imitações. E é isso que quero da arte. É isso que, em determinado momento, o casamento faz.
A história conta o encontro entre Zé das Baratas e Maria Feia: primeiro rejeitada, justamente por sua feiura; depois desposada, por descobrir-se bonita. Foi no jogo estabelecido pelos signos do belo e do feio, durante a montagem, que me encontrei apanhada em derrisão pelo Discurso.
O texto (verbal) de Rutinaldo, não serve tanto a esta pequena subversão, uma vez que Maria Feia, transforma-se em Maria Bonita num “passe de mágica”, e estando eu diante do papel e da língua, bem pude imaginá-la transformando-se em outra imagem, um novo código, portanto, lógicamente possível de ser ressignificado. No entanto, na sketch, Maria transforma-se, sem transformar-se, e o que muda não é o código, mas o significado dele para nós.
Como diria Barthes, existem milhares de formas de significar a mesma coisa, pratica que faz do nosso exercício, seu inverso: dedicarmo-nos ao esforço de pluralizar o signo, de abrir-lhe os sentidos, perceber em códigos combinados e repetidos outros significados e outra vez derrubá-los.
1 comentários:
legal gostei da peça
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